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segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Chapter IX - Sick


O corpo humano sem dúvida é algo fantástico! Ele aumenta sua própria temperatura quando ele quer matar algo que está fazendo algo de errado, desliga o sistema quando quer que você entre em repouso forçado e ainda devolve tudo pelo mesmo caminho que entrou caso ache que está te fazendo mal.
O problema talvez seja que todos esse mecanismos são acionados de forma automática, inconsciente, o que as vezes faz com que sua mesma inconsciência acione nas horas erradas, quase uma falha do sistema.
Eu acreditava que estava sendo vítima de uma falha dessas, eu queria estar mal, pois afinal de contas eu acreditava estar fazendo algo totalmente errado, eu estava conduzindo uma espécie de relacionamento com duas mulheres ao mesmo tempo, e por mais que eu repetisse para mim mesmo que não estava prometendo nada a nenhuma das duas, eu sabia que essa desculpa não iria me absolver da culpa.
Então minha fantástica cabeça convenceu o coitado do meu corpo que ele deveria pagar por isso, acordei de madrugada e corri direto para o banheiro, certamente vomitei todo meu caro almoço em umas três sessões. A náusea, mal-estar, gosto de guarda-chuva na boca, sensações que todo mundo já sentiu uma vez na vida e que definitivamente não são boas.
Acredito que passar mal seja a pior parte de morar sozinho, eu tenho amigos de infância que assim que eu fui para a faculdade e passei a morar sozinho sempre invejavam minha liberdade, mas eles só olhavam os benefícios, o fato de não mais ter que prestar contas aos pais sobre o horário que chega em casa, na casa de quem dorme ou coisas parecidas. Mas ninguém pensa no outro lado, limpeza você paga uma empregada, comida você resolve comendo em restaurantes, mas certas coisas não tem opção, e passar mal é uma delas, na primeira vez que você se sente mal e sua mãe não está ao seu lado para apertar a sua barriga, que você sabe que vai ter que mudar sua dieta naquela semana por conta do seu estado e não tem ninguém para ir no mercado comprar as coisas que você precisa, você percebe que realmente está sozinho no mundo, e por mais que você sempre possa dar um grito para alguém te ajudar, eu nunca fiz isso, pois eu lembro do dia que comprei o pacote da liberdade, e por mais que só tenha olhado os benefícios na época, sabia que nas letrinhas miúdas do contrato haviam coisas que eu não iriam gostar, inclusive talvez esse seja o motivo de eu não ter lido.
Hoje as coisas não estavam tão ruins, afinal de contas eu não acreditava estar doente, apenas tinha comido algo que não tinha me feito bem e, é claro, meu estado psicológico que influenciava muito, eu pertenço ao grupo dos que acreditam que sua mente é capaz de curar e/ou machucar seu corpo, mesmo que não exista nenhuma ciência 100% capaz de controlar isso. E ainda que as coisas piorassem, eu tinha comida em casa o suficiente para ter uma dieta mais leve durante a próxima semana, sem contar que se acordasse mal na segunda-feira eu poderia simplesmente ligar para o escritório e tirar o dia de folga até melhorar, pois eu era o chefe, ninguém cobraria meus horários, nem todo mundo estava nessa mesma condição.
Lembro de quando era mais novo, certo dia fui comer em um restaurante espanhol com meu gerente, comi uma palleja muito saborosa, mas infelizmente passei mal a tarde toda, vomitei por três vezes no banheiro da empresa e voltei para trabalhar, era uma sexta-feira, e apesar de estar passando mal ainda fiquei até as 22h no serviço, a maioria se encontra nessa situação, não se pode reclamar e pedir uma folga todas as vezes, pois por mais que você precise da folga, podem começar a pensar que você está abusando de mais, ou que não está comprometido o bastante. Mas eu não fiquei chateado quando isso aconteceu comigo, afinal de contas, eu prefiro culpar o jogo, e não os jogadores, meus superiores eram os responsáveis por eu ter continuado trabalhando naquelas condições, mas estavam sujeitos as mesmas regras, e portanto tão vítimas quanto eu.
Meu estômago estava se revirando, eu tinha certeza que minhas entranhas estavam subindo pela minha garganta em direção ao meu cérebro, elas queriam sufocar o responsável por tomar as decisões que conduziram ao meu estado atual. Esse é um dos momentos que eu entendo realmente como deve ser a dura vida feminina com as cólicas, não é fácil ter uma parte interna sua fazendo movimentos para expulsar algo, não tenho a menor idéia se as cólicas mestruais são piores ou não às que eu sentia, mas se tivesse que passar por isso mensalmente, sem dúvida seria bem pior, não importa a intensidade da dor.
Talvez a única vantagem de estar com dois problemas simultâneos, é que minha cabeça me distraia o bastante para esquecer da dor física na maior parte do tempo, ainda que eu preferisse apenas o problema físico, pois sabia que não duraria mais do que três dias.
Já era umas 10h quando a campainha toca, não sabia quem era, mas como não me chamaram no interfone primeiro, só podia ser a dona Maria ou a Júlia, e para minha surpresa era a Júlia, com uma expressão de culpa, como se tivesse feito algo de muito ruim.
- Oi Bruno, eu vim ver como você está, te mandei um sms ontem, como você não respondeu fiquei preocupada.
- Eu estou bem, não tem nada relacionado com a caminhada, comi em um restaurante diferente e provavelmente foi isso, fica tranquila.
- Mas você está com uma aparência péssima!
- Haha, não sei se você já reparou bem em mim, mas meu natural não é  tão bom assim também não.
- Engraçadinho, pelo menos se você já está fazendo piadinhas é porque não está tão ruim assim.
- Desculpe, nem te convidei para entrar, vamos, entre.
- Eu não quero atrapalhar, só vim ver como você estava mesmo.
- Olha, como você bem disse, eu estou doente, então vou me dar ao luxo de virar as costas e deixar a porta aberta, espero que você entre e feche a porta.
E simplesmente fui em direção ao sofá olhando para trás com um sorriso no rosto. Ela riu, deu o primeiro passo entrando no apartamento balançando a cabeça, igual criança quando recebe uma ordem dos pais. Eu me sentei no sofá, ela veio logo em seguida e sentou do meu lado, a TV estava desligada, ela pegou o controle, e após ligar começou a navegar pelos canais.
- É impressionante, mulher mal chega em um lugar e já quer ser dona do controle remoto!
Nesse momento ela me olhou com uma cara de “Eu ein...”, e começou a rir.
- E você que não se atreva a reclamar, antes que eu resolva colocar meus paninhos rosas no seu banheiro também!
Por isso que ela mexia comigo! Apesar de estar sozinha comigo no meu apartamento ela não se intimidava ou se constrangia com certas brincadeiras, ela simplesmente embarcava e começava a contribuir. Eu sempre disse para mim mesmo que admiração intelectual seria um fator determinante para eu conseguir um relacionamento com alguém, e era isso que mais me intrigava com a Júlia, ela não tinha estudado muito, não era uma pessoa muito culta, mas eu sentia vontade de abraçar ela e passar a tarde toda deitava ali no sofá vendo a programação da TV, por mais que nada me interessasse ela já seria entretenimento o bastante.
- Você já almoçou?
- Como assim almocei? Ainda são 10h!
- Isso foi um sim ou um não?
A cara de indignação que ela fazia as vezes era muito boa, dizia muito mais do que palavras, continham sentenças completas.
- Eu jurava que você era diferente, todo sério, sempre cumprimentando com gestos, raramente usava palavras, você é esquisito!
- Esquisito é bom ou ruim?
- Ruim! Muito ruim, mas felizmente para você eu também sou esquisita e não me importo com isso...
- Ok, mas ainda não sei sua resposta da minha primeira pergunta.
- Não senhor, ainda não almocei, satisfeito?
- Muito bom, quando eu cozinho, é quase um trabalho artesanal, quer ficar e aproveitar a minha maravilhosa canja?
- É tão boa assim?
- Na verdade não, fica horrível, mas assim como quando o povo entra na piscina, ninguém diz que água realmente está gelada, sempre dizem que está uma delícia.
- E se eu cozinhasse para você? Pelo menos a comida iria ficar gostosa, sou uma ótima cozinheira!
Se ela soubesse que eu pretendia fazer ela cozinhar desde o início, certamente ficaria brava comigo, assim como todo mundo fica quando eu tento manipular, mas de qualquer forma, feio como eu sou, eu jamais atrairia alguém se não usasse do meu intelecto para conseguir o que eu quero. Injusto? Talvez, minha professora de física da faculdade uma vez me disse que eu era um grande manipulador, só não sabia se eu seria um grande lider ou grande pilantra, até o momento ainda não sou nenhum dos dois.
- Humm, deixe-me pensar, tá bom, eu deixo você cozinhar para mim.
- Você deixa? Nossa... muito obrigada pela honra!
- Não há de que, eu realmente sou uma pessoa muito generosa, pelo menos é o que dizem.
Ela riu e começou a perguntar onde eu guardava as coisas, eu nem saí do sofá, coloquei as pernas para cima do assento e fiquei de lado, como eu morava em um loft que não tinha divisórias, era possível ver toda a ação na cozinha sem sair do meu lugar. Eu fiquei ali sentando, fingindo que assistia televisão enquanto ela mexia em tudo e olhava o que tinha disponível na dispensa.
Por um momento eu quis tudo aquilo para mim, alguém dentro de casa para tomar conta de mim, para cozinhar quando eu estivesse doente, para matar o tempo vendo televisão mesmo que a programação fosse chata, ou simplesmente para fazer um pouco de nada em dupla. Eu queria tudo aquilo, mas eu não iria ter nada daquilo naquele momento, pois apesar de eu fazer de tudo para ser uma boa pessoal, a vida sempre me passa uma rasteira nos momentos que eu relaxo, como se quisesse fazer questão que eu aprendesse a lição de que eu não merecia relaxar, e foi naquele momento de devaneio que o interfone tocou.
- Bom dia “seu” Bruno!
- Bom dia “seu” Gilberto! Tudo bem?
- Tudo, e o sr?
E pensei no mal-estar que estava sentindo, mas naquele momento olhei para a Júlia cortando alguns legumes e ajeitando o cabelo que havia caído na testa com a mão, toda concentrada na tarefa que estava realizando.
- Tudo ótimo, melhor impossível.
- Que bom, mas tem alguém aqui na recepção querendo entrar, falou que é amiga do senhor, Rafaela, posso mandar subir?
Pã! Tela azul!
Eu não sabia o que fazer, meu cérebro começou a trabalhar na solução do meu problema, imaginei diversos cenários, várias combinações de possibilidades que poderiam acontecer naquele momento, nenhum tinha um final feliz, as única variação era a quantidade de pessoas que saiam machucadas.
Mandar a Rafaela entrar seria suicídio, ainda mais com a Júlia manuseando uma faca afiada! Mulher tem uma faro aguçadíssimo para certas coisas, no instante que a Rafaela entrasse pela porta as duas iriam pergunta: “Quem é essa?”, e eu não saberia responder, não por não ter um resposta que trouxesse a paz no ambiente, mas simplesmente porque não existia uma resposta correta para essa pergunta, pelo menos eu ainda não sabia.
Fazer a Júlia sair antes da Rafaela subir também não era opção, por mais que eu convencesse ela a ir embora, levaria mais do que o tempo necessário, e as duas iriam acabar se encontrando.
Não deixar a Rafaela subir seria a melhor opção, mas como fazer isso? Ela já sabia que eu estava em casa, afinal de contas eu atendi o interfone, e como ela sabe que eu moro sozinho, sabe que foi eu quem atendeu. Eu poderia descer, falar que preciso fazer algo na portaria e a Júlia não iria se importar, mas o que dizer para a Rafaela? E como não deixar o porteiro perceber nada? Conheço o Gilberto, antes que eu chegasse no elevador a dona Maria já saberia que eu beijei uma mulher na portaria.
Quanto tempo se passou? Poderia ser 5s ou 5min, não sabia, parecia que tinha acabado de enfiar minha cabeça num balde com água gelada, sentia milhões de agulhas dando pontadas no meu cérebro.
- Avise que eu estou descendo, se ela reclamar diga que chegando ai eu explico!
Calça de flanela e camisa branca, era como eu estava vestido, perfeito! Mas não tinha tempo para trocar de roupa, precisava descer.
- Júlia, preciso ir na portaria, quando voltar é melhor isso estar pronto!
- Depois que o desinfetante cai sem querer na panela você fica brava comigo...
Eu já estava saindo pela porta, voltei e coloquei apenas a cabeça para dentro.
- Você não faria isso, faria?
Ela simplesmente olhou com um olhar extremamente perversos para mim e respondeu: “Claro que não, eu casaria com você antes para herdar tudo que tem!”
Eu estava desesperado, minha cabeça com mil pensamentos, e mesmo assim sorri com a cena, a Júlia era uma caixinha de surpresas, eu acho que gosto de caixinhas de surpresas.
Enquanto estava no elevador mais uma pergunta apareceu na minha cabeça: Como ela sabia onde eu morava? Seu burro! Ela deve ter visto quando apertou o botão “home” do gps! Tarde demais, não era hora de pensar como ela chegou, apenas de como ela iria ir embora.
Quando chego na portaria meu ossos gelaram, minha garganta ficou seca e podia jurar que estava tentando um “tic”, meu olho esquerdo deveria estar piscando e provavelmente eu estava tendo espasmos que fazia minha cabeça balançar para a direita. A dona Maria estava na recepção, a Rafaela já estava para o lado de dentro do portão conversando com ela, as duas estavam de lado para mim, ainda não tinha me visto, mas começavam a virar a cabeça, eu tinha frações de segundo para tirar a expressão de terror do rosto e apenas aparecer um cara abatido por conta do último dia. E é claro, ainda tinha que pensar como sair daquela situação.
- Já conheci sua amiga Bruno, eu não pude deixar ela esperando do lado de fora.
- Nem ela merecia - eu disse.
- Ainda bem que você sabe, afinal de contas é difícil encontrar boas moças hoje em dia, não se deve matratá-las.
E falando isso a dona Maria se afastou, entrou na guarita do porteiro e começou a conversar com  o Gilberto, mas ainda ficou numa posição que podia me ver, ainda que não estivesse totalmente de frente para ela podia sentir a presença de seus olhos colados na minha nuca, eu me sentia como seu fosse começar a 3ª guerra mundial caso eu fizesse um movimento errado.
- Nossa Bruno! Você parece bem pior do que estava ontem! Passou muito mal?
- A noite toda, estou morto - Disse enquanto abaixava a cabeça e esfregava os olhos e a testa numa expressão de cansaço.
- Me desculpe por ter vindo sem avisar, é que depois da surpresa do restaurante de ontem eu não resisti, lembrei do endereço que vi no seu gps e resolvi fazer uma visita. - Nisso ela deu uma passo a frente e se aproximando mais começou a falar mais baixo, quase sussurrando - Sem contar que eu disse que iria te recompensar, depois de ontem eu não consegui parar de pensar em você.
Eu corei na hora, pelo menos acho que foi isso que aconteceu, senti meu rosto formigando, e soltei uma risada sem graça.
- Fico feliz em saber disso, mas infelizmente não acho que seja uma boa hora, eu não estou em condições, estou desidratado, sem contar que não teria coragem de deixar ninguém entrar no meu apartamento agora, eu passei mal a madrugada toda e a casa não está com um aroma agradável...
- É, eu realmente devia ter ligado antes, me desculpe.
- Você não tem pelo que se desculpar, a culpa é minha de ser fraco demais para certos tipos de comida.
- Bom, acho que é melhor deixar você descansar, você parece estar bem abatido.
E nisso ela puxou com a mão a correntinha que ela usava no pescoço e prendeu com os lábios, instintivamente meus olhos seguiram a extensão do cordão e pararam no meio do decote da Rafaela, que era para onde o pingente fazia peso e puxava a corrente, ela percebeu meus olhares e fez aquela cara de quem gosta de ser apreciada.
Tudo parecia bem, muito mais fácil do que eu imaginava, não acreditava que a Rafaela iria embora sem mais reclamações, sem insistir para conhecer meu apartamento, ou que a dona Maria não iria fazer uma inquisição sobre quem era aquela moça, tudo parecia fácil demais, o que me deixava ainda mais preocupado. Lembro de um chefe que eu tive, por vez ou outra ele perguntava se eu estava preocupado, quando eu respondia que não, ele dizia que agora era ele quem estava, pois eu deveria estar.
O seu Gilberto abriu o portão, e eu saí com a Rafaela, fomos até o carro dela, eu mesmo abri a porta depois que ela desligou o alarme, estava um de cada lado da porta, ela se inclinou para frente e me deu um beijo selinho e disse: - Da próxima vez você não me escapa!
Trocamos mais algumas palavras, eu me desculpei mais uma vez e finalmente ela resolveu entrar no carro e ir embora, não antes de me dar outro beijo, mas ela finalmente foi e eu fiquei feliz de me livrar de mais um problema.
Quando voltei para o prédio o Gilberto me falou que a Júlia tinha inferfonado.
- A moça Júlia tá na sua casa é? Vice, se não fosse por esse mulherão que você acabou de colocar no carro eu diria que vocês e a Júlia formavam um ótimo casal!
- Mas o que que ela queria?
- Ela queria saber onde é que ficavam as panelas maiores, mas a dona Maria ainda estava aqui e explicou para ela.
- Ok, certamente ela sabe melhor do que eu onde ficam essas coisas.
- Mas e a moça Júlia, o que faz no seu apartamente essas horas? Dormiu lá, foi?
- Deixa de ser curioso rapaz! Ela só foi ver como eu estava, não está vendo que eu estou meio mal? Aproveitou e se ofereceu para fazer meu almoço, só amizade, nada mais...
- Sei não ein... Mas se o senhor diz, minha função é abrir e fechar portão, do resto não entendo muito.
- Até mais Gilberto.
- Até.
O Gilberto tinha visto e poderia vir a ser um problema, ele não tem maldade, mas fala e pergunta além da conta. Pelo menos a dona Maria já tinha ido embora, duvido que ela tenha visto alguma coisa.
Quando entrei pelo apartamento a Júlia ainda estava na cozinha misturando algo na panela com o fogo já aceso, eu olhei para ela e ela não falou nada, simplesmente me olhou e voltou sua atenção para a cozinha.
- Bonita, qual o nome dela?
Eu não conseguia nem engulir, que tipo de pergunta era aquela? O medo maior agora era falar demais.
- Quem?
- A moça que veio te visitar, quando interfonei para a portaria o Gilberto disse que você estava dando tchau para uma moça, eu fui na sacada para ver a vista do seu apartamento, nunca tinha vindo aqui durante o dia, e o meu fica virado para o outro lado, dai foi quando olhei para baixo e vi você com ela.
- Rafaela, o nome dela.
- Nome feio, a moça é mais bonita do que o nome.
Mulher sempre tenta achar um defeito nas outras, e logo em seguida sempre tenta remendar com um elogio para disfarçar, para não deixar ninguém perceber o ciúmes, mas normalmente não funciona.
- Eu conheço vários homens chamados Rafael, mas Rafaela eu acho que é a única.
- Eu também. Não sabia que você estava namorando com alguém.
Direta, quase igual uma bala no peito.
- E quem disse que eu estou?
- Eu vi você se despedindo dela, e por mais que eu tenha me enganado sobre diversas coisas a seu respeito, sei que você não é do tipo que traria em casa qualquer uma, se ela sabe onde você mora é porque deve significar algo a mais.
- Mas não estou namorando, conheci ela em um bar por acaso, saí para almoçar com ela ontem, essa é a quinta vez que vejo ela, sendo que as duas primeiras foram apenas conversas rápidas na mesa de um bar, na verdade ela é que é um pouco atirada.
- É, conheço algumas assim, por mais que os homens reclamem disso, são as preferidas.
- Não as minhas, eu prefiro as mais discretas.
- Prefere as discretas, mas estava lá embaixo beijando a atirada.
Eu queria fazer uma piadinha, algo do tipo: “Está com ciúmes agora?”, mas não acho que seria uma boa opção.
- Mas sério, não acredito que eu vá me envolver com ela, estou bem como estou.
- Em todo caso, você deveria ter me avisado.
- Por que?
- Porque eu não gostaria de estar saindo com um cara que costuma receber uma outra mulher de noite em casa para ficar “estudando”, não é legal, se não gostaria que fizessem comigo não deveria fazer com outras pessoas.
- Relaxa Júlia, eu mal conheço as Rafaela, como te disse, ví ela poucas vezes, simplesmente fui almoçar com ela ontem porque ela me convidou.
Mentira, eu tinha convidado ela, e armado uma surpresa, e também dado o primeiro beijo, e também era um babaca, lógico.
- Não importa quantas vezes, mas sim que você beijou ela, já nos vimos várias vezes, mas nunca nos beijamos, tempo não significa nada.
A voz dela estava diferente, não tinha mais aquele tom vibrante da Júlia que costumava vir estudar em casa, ela estava sentida, só não sabia se era porque ela estava interessada em mim ou se era porque se sentia uma boba por ter pensado que eu poderia estar me interessando por ela. Era uma mistura de vergonha com desânimo. Difícil explicar.
- Me desculpe, eu deveria ter te contado, não houve malícia da minha parte. - Mais uma vez mentira, eu fui imprudente, infantil, sabia o que estava acontecendo e deixei as coisas acontecerem.
- “Relaxa”, como você mesmo costua dizer, mas eu acho que não deveria mais vir estudar com você, fica chato.
Eu não sabia o que deveria dizer, mas sabia exatamente o que eu queria dizer, queria falar para ela que gostava dela, mas que não cruzei a linha por receio de acabar machucando alguém, que a Rafaela simplesmente era uma garota determinada que eu tinha conhecido num momento de indecisão. Mas não seria justo, eu não merecia a Júlia.
- Bom, a canja esta quase pronta, continue mexendo e desligue em 20 min, depois me diga se ficou bom.
Queria pedir para ela ficar, mas acho que seria abusar da sorte.
Quando ela estava saindo pela porta eu me aproximei e agradeci, quando ela veio me dar o beijo no rosto de despedida eu dei um passo a frente e completei um abraço enquanto pedia desculpas, elas simplesmente colocou um sorriso ameno no rosto e disse que estava tudo bem.
- Se precisar de alguma coisa me ligue, não passe mal sozinho, e muito ruim.
- Eu sei, obrigado pela canja.
Ela fez o gesto de “de nada” com a cabeça e seguiu para o elevador que ainda estava no andar desde minha ultima subida.
Eu tinha estragado tudo, e não tinha ninguém para colocar a culpa. E o pior de tudo é que acreditava de machucado a Júlia também, isso sim não poderia ter acontecido.
A vizinha do cabelo vermelho mais uma vez dançava na sacada do prédio, nem me dei ao trabalho de olhar.
Apaguei o fogo e fui deitar, a fome podia esperar, minha cabeça estava a mil por hora, precisava dormir para desligar os pensamentos.
Vez ou outra eu percebo que não sou feliz, mas isso não me afeta, em contrapartida, são em momentos iguais a esse, como quando eu observava a Júlia na cozinha, que eu percebo o quão longe eu estou de ser feliz, que eu realmente me sinto infeliz.
Eu estava infeliz.
Só eu sabia o quanto aquilo me afetava.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Chapter VIII - Junk Food

Se a mulher do GPS não ficasse me lembrando o caminho, te juro que teria dirigido direto para meu escritório, não vou dizer que nunca fiz isso, mas faz tempo que não acontece. A Rafaela morava perto, com o trânsito leve dos finais de semana cheguei na casa dela em 15 min, ela morava em um condomínio grande, cheguei a procurar apartamentos nele antes de comprar o meu, mas eram todos muito grandes para quem mora sozinho, por isso arriscaria dizer que ela ainda mora com os pais, mas isso eu descubro durante o almoço.
A Rafaela estava preparada para matar, a verdade era essa. Ela estava com um vestido frente única preto, não me pergunte os detalhes, eles se perderam junto com meus pensamentos no momento em que ela apareceu no meu campo de visão. Eu a vi no momento em que saiu do prédio, ainda dentro do condomínio, e no momento em que fizemos contato visual ela abriu um sorriso. Naquele momento eu viajei, fui até meu baile de formatura, quase um dejavú da mesma cena.
Eu já estava vestido com meu smoking de formatura, como não bebo, estava dirigindo, passei no hotel em que meus pais estavam hospedados para aguardar o taxi com eles, pois como meu pai pretendia beber, achou melhor não dirigir naquela noite. Eu estava na recepção do prédio, já estava com meu pai e um tio, esperando minha mãe e irmã descerem, quando a porta do elevador se abre, quando olho para trás vejo a Fernanda, irmã de um dos meus melhores amigos, estava com um vestido frente única preto, ela era bem clara, cabelos longos e pretos, quando me viu, abriu um sorriso, eu nem sabia que a família dela também estava hospedada naquele hotel. Eu fiquei paralizado, no momento seguinte ela me chamou pelo meu nome, e só ai eu acordei, olhei para todos os lados constrangido, mas creio que ninguém percebeu que eu havia ficado desconcertado.
Naquela noite passei uma boa parte da festa com a Fernanda, ela queria que eu bebesse, eu queria que ela me beijasse, parecia uma troca justa, e o assunto foi se desenrolando, até que a dona Fátima, mãe da Fernanda, aparece na cena... A princípio pensei que ela estava alí porque tinha percebido algo entre nós, mas na verdade ela queria que fosse no banheiro checar o filho dela, porque ele estava bêbado e passando mal no banheiro. “Grande amigo” ou “irmã do amigo”? Optei pelo amigo, a Fernanda ainda me olhou e fez um não com a cabeça, para que eu não fosse e ficasse com ela na pista, fato que penso nisso até hoje.
A Rafaela me lembrava a Fernanda naquele momento, mas era impossível não lembrar da Júlia também, mas não era pela aparência, e sim por um sentimento de culpa que ainda pairava na minha mente, as palavras da dona Maria pareciam jogar um jogo de pinball dentro da minha cabeça.
- Boa tarde senhor Bruno.
Eu, que estava encontado no carro, olhei para trás, como se procurasse a pessoal com quem ela tivesse falado.
- Não estou vendo nenhum senhor por aqui...
Ela riu.
- Como estou? Exagerei na roupa?
- Você está fantástica, certamente atrairá mais olhares do que o comum, mas isso não é culpa sua.
Ela corou um pouco, mas ao mesmo tempo sorriu pelo canto da boca inclinando um pouco a cabeça para baixo enquanto cerrava os olhos, qualquer um poderia ler a expressão dela, de quem estava feliz por ter alcançado o seu objetivo, que era me impressionar.
Abri a porta do carro para ela, ela agradeceu e entrou como uma lady, virou as costas para o banco, sentou, e depois colocou as pernas para dentro.
E dei a volta por trás do carro e assumi minha função de piloto, até brinquei com ela, dizendo que tinha uma faixa no porta-luvas e era para ela vendar os olhos, ela riu e abriu o porta-luvas, fez uma expressão de alívio quando viu que estava vazio.
- Nossa, por um momento pensei que você era um daqueles tarados maníacos.
- Eu ainda não teria descartado essa hipótese! - Disse com um tom sério.
- Seu bobo, eu namorei um cara que tinha faixa preta de Judô, sei me defender muito bem!
Impossível não pensar em todas as chaves de corpo que ela saberia dar, quando engoli a seco e olhei sem graça ela simplesmente riu.
    - Você tem alguma idéia de onde eu estou te levando?
    - Bom, esse é o mesmo caminho do restaurante que eu tinha te chamado, mas tem ótimos restaurantes por aqui.
    - Espero que goste.
    - Caso eu não goste, você compensa depois.
Tomara que ela odeie. Tomara que ela odeie. Tomara que ela odeie.
    Chegamos, e enquanto saia do carro e entregava a chave ao manobrista, ela ficou meio de boca aberta, ameaçava a falar e só conseguia rir.
    - Pelo visto, eu acho é que sou eu quem vai ter que te recompensar... - E enquanto falava, ela passou por mim e passou a mão pelo meu rosto.
    Assim que entramos o Joel me viu, e logo veio me receber na porta, perguntou como andava a empresa e agradeceu pela visita. A Rafaela olhava meio impressionada, eu gostava das reações dela, ela era bem transparente, o que é legal por eu conseguir saber exatamente o que está acontecendo, mas em contrapartida costuma ser muito simples, o que faz com que eu perca o interesse facilmente.
    - Você realmente é cheio de surpresas, existem mais alguma coisa ao seu respeito que eu deveria saber?
    - Ah, sim, só mais uma coisa, eu não posso demorar porque prometi para minha esposa que vou levar ela para fazer o ultrassom hoje.
    - Mas você é besta mesmo ein?
    Eu adoro ver as pessoas rindo, acho que isso faz bem, não importa que as vezes eu tenha que me passar por besta ou por idiota, é um preço justo por aquele momento de alegria que a pessoa tem. Infelizmente nem todos pensam assim.
    - Mas me diga, você mora sozinha? Cheguei a pesquisar apartamentos no seu condomínio, mas são todos muito grandes.
    - Mais ou menos... O apartamento é dos meus pais, mas já faz algum tempo que eles ficam quase que por tempo integral no sítio do interior, vez ou outra aparecem para uma visita.
- Interessante, então você mora sozinha, mas os pais visitam com frequência, parece descrição de rede social.
- Quase isso, posso garantir que hoje eles não vão aparecer, foram embora ontem.
Sabe aqueles momentos que os olhos estão colados nos olhos de outra pessoa que mesmo que os dois movam a cabeça os olhares permanecem centrados? Foi um momento desses.
O Joel apareceu e interrompeu o momento, fez questão de apresentar o prato e servir a nossa mesa, fato que durante a explicação eu não prestei a atenção em nada, nossos olhares continuavam fixos.
A Rafaela era uma mulher feita, sabia o que queria da vida, a Júlia era uma menina, muito mais inocente, muito mais encantadora, mas enquanto ela vivia de sonhos, a Rafaela era cheia de realizações. É muito bom sonhar, mas existem momentos da vida que é necessário atitude.  A Júlia se fazia de vítima, e esperava que eu atacasse, com a Rafaela, a vítima era eu.
A comida estava horrível. Odeio comer em restaurante chique, tem pouca comida, é tudo muito enfeitado e custa tudo muito caro, sem contar que tem fazer biquinho para pronunciar o nome dos pratos! A única vantagem é que por ser pouco, acabava rápido também, assim o almoço acabou rápido.
Não trocamos nenhuma palavra, nossos olhares raramente se desconectavam, e isso já dizia mais do que livros inteiros.
Assim que terminou de comer, a Rafaela tocou no meu joelho para chamar minha atenção e avisar que ia ao toillet, mas eu estava tão distraido com outros pensamentos que dei um pulo com o toque. Ela simplesmente riu, e eu também, mas as era risadas diferentes, eu por constrangimento, ela como se dissesse: “Ele não passa de um menino assustado”.
Quando ela voltou a conta já estava paga.
- Podemos ir? Ou vai querer sobremesa?
- Não, já estou satisfeita.
- Ufa, porque a conta já está paga, podemos ir embora quando você estiver pronta.
- Eu nasci pronta meu filho...
Eu levantei e estiquei a mão para ela, ela segurou e me acompanhou pelo caminho da saída. Enquanto saía, olhei para o lado, e a minha sensação era de que todas as outras mesas estavam olhando para nós dois, com um olhar de que estivesse óbvio o que estava para acontecer depois que saíssemos pela aquela porta.
Assim que entramos no carro ela apertou o botão “Home” do GPS, a rota calculou 27 min até o destino final, então ela disse:
- Minha casa só fica a 15 min.
Naquele momento eu sabia exatamente o que estava fazendo, e ainda que tivesse visto a Júlia em meus pensamentos na minha ultima piscada, soltei o cinto do carro que tinha acabado de prender e a beijei. Quando me afastei e voltei para prender meu cinto novamente foi a vez dela, que soltou seu cinto e veio me beijar, quando parou eu disse:
- Podemos continuar essa rotina o dia inteiro, mas acho melhor sair daqui antes que o povo comece a bater fotos...
Ela simplesmente riu e se ajeitou para colocar o cinto enquanto eu dava partida no carro.
Fomos praticamente em silêncio até o apartamento dela. Chegando perto ela já disse para que colocasse o carro na garagem, a vaga dos pais dela estava livre. Me guiou pela garagem até chegarmos na vaga, que por sinal, era muito pior que a minha, 42 passos até o elevador, e na tensão que nós dois estávamos mais parecia uma maratona com seus 42 km, ou mais precisamente 42.195 m, uma história interessante também sobre sua origem, mas que nem me passou pela cabeça naquele momento.
Eu fui logo em direção ao elevador e apertei o botão de subir, estávamos no piso mais inferior. Quando virei as costas e ia entrando no elevador (que coincidentemente já estava naquele andar) ela pediu para eu esperar e se afastou de mim com passos mais rápidos que o comum, mas não chegava a ser correndo, como quem faz cooper. Quando ela chegou na frente do elevador de serviço, ela disse:
- Ei, esqueci algo. Hoje teve mudança, o elevador está com proteção, tampa a câmera. - E sorriu maliciosamente.
E se aproximou e deu um beijo no meu rosto. Ficamos em silêncio esperando o elevador, quando a porta se abriu ela entrou e eu fique do lado de fora, parado.
- Você não vem? E riu. Ainda mais maliciosamente.
Assim que pisei dentro do elevador eu não tive chance de interpretar o meu primeiro pensamento, ela me pressionou contra a parede do elevador - logo debaixo da câmera, onde tinha o ponto cego - e me beijou, pressionando o corpo contra o meu enquanto eu passava a mão pelos seus cabelos.
A porta do elevador se abriu, 18º andar, enquanto ela procurava a chave dentro da bolsa, na maior calma do mundo como se nada tivesse acontecido, eu apoiei o braço direito no batente da porta e encostei minha cabeça, como quem faz na hora que está brincando de esconde-esconde.
No exato momento que fechei meus olhos eu revi toda a cena na minha cabeça, o momento em que a Júlia pediu que eu esperasse, que veio correndo na minha direção, muito semelhante como aconteceu com a Rafaela, e a forma como a Rafaela me “atacou”, diferente como eu fiz com a Júlia, eu me sentia mal, pois o problema não era a Júlia, era eu. Eu não queria estar alí, não com a Rafaela, eu queria a outra, mas meus valores morais me agrediam, não era a primeira vez que isso acontecia, e eu já sabia que no final da história eu ia acabar ficando sem as duas.
Pensei em dar uma desculpa e ir embora, mas ia ficar chata a situação, então pensei o máximo que pude nos poucos instantes que tinha, e tentei um plano diferente, boas mentiras são feitas de detalhes, se você souber planejar da forma correta quase ninguém saberá dizer que não é verdade.
- Posso usar o seu banheiro? - E não disse mais nada, olhei para cima e soltei um suspiro lento. Ela me olhou preocupada com a cara que fiz.
Fui até o banheiro e deixei a porta aberta, lavei o rosto e molhei a nuca. Ela, que estava parada na porta, perguntou:
- Você está bem?
- Não sei, sint um mal-estar, talvez algo que comi naquela porcaria de comida não me fez bem... Que merda! Isso só acontece comigo...
- Ei, relaxa, eu tenho uns remédios aqui, quer algo?
- Não, acho melhor eu ir embora, não gosto de remédios, talvez deitando melhora...
- Quer deitar aqui?
- Não, obrigado, prefiro ficar em casa, por via das dúvidas posso dormir o quanto quiser sem gerar nenhum incômodo.
- Tudo bem, você consegue dirigir? Eu posso guiar o seu carro e pegar um taxi depois se você quiser.
- Acho que estou bem, consigo dirigir.
Ela desceu junto comigo no elevador, desta vez nos comportamos como pessoas normais. Confesso que achei muito fácil, estranhei a aceitação dela.
Quando entrei no meu carro, ela segurou a porta e entrou junto comigo, sentou no meu colo, puxou minha cabeça e me deu um beijo longo.
- Desta vez você escapou, se não tivesse se esforçado tanto na surpresa, diria que estava me enrolando, da próxima vez cozinhamos em casa para não ter problemas!
Eu apenas sorri, forçadamente.
- Sim senhora!
Ela esperou eu sair com o carro, e pelo retrovisor eu pude ver ela se dirigindo ao elevador.
Eu sou um idiota. Na verdade sou muito mais do que isso, sou um idiota e um burro, somados.
Cheguei em casa, cara de acabado, a dona Maria estava no térreo conversando com o porteiro, quando passei por ela ela percebeu que eu não estava bem, minha cara entregava que eu não estava satisfeito.
- Tá tudo bem Bruno?
- Tá sim, por quê?
- Quer conversar? Não estou fazendo nada, você parece que precisa de alguém para conversar agora.
- Talvez sim, mas como a senhora bem sabe, eu não sou de fazer isso, agradeço, mas passo.
- Tem certeza? Ninguém consegue resolver tudo sozinho meu filho.
- Eu sei, mas como a senhora também sabe, eu adoro desafios! - Falei sorrindo.
- Pelo menos conseguir tirar um sorisso seu.
- Eu só não estou me sentindo bem, mal-estar.
Eu, ainda sorrindo, concordei fazendo movimentos lentos com a cabeça.
Chegando no meu apartamento fui direto para o banho, ainda de roupão peguei uma garrafa d’água na geladeira e fui para a sacada. Para minha surpresa, no prédio em frente ao meu tinha uma menina com um short jeans curto com as pontas desfiadas e um top tomara que caia preto dançando na sacada, logo reconheci os cabelos vermelhos, era a mesma vizinha que acenou no outro dia, estava dançando algo um tanto quanto estranho para se dançar na sacada, se fosse arriscar, diria que era “funk” ou algo pior. Mas confesso, era difícil tirar os olhos da menina, ela tinha um corpo bonito, cabelos vermelho fogo, e ainda que fosse vulgar, a dança era bem sensual.
Mas não fiquei muito por ali, logo ela percebeu minha presença e acenou novamente, eu fingi que não ví o gesto olhando para o outro lado, ela assobiou, eu continuei ignorando e entrei para evitar maiores confusões, já tinha problemas demais com mulheres no momento.
Deitei no sofá e recebi uma mensagem da Rafaela perguntando se eu já tinha recobrando minhas forças, enquanto escrevia a resposta recebi outra mensagem, desta vez da Júlia, dizendo que se sentia mal por ter me forçado a caminhar, dona Maria havia comentado que eu estava mal e se sentia culpada.
Duas pessoas totalmente diferentes, uma cobrando minha melhora e outra lamentando, as duas eram totalmente diferentes, e eu não fiz nada com uma pensando na outra e depois recuei com a outra pensando na uma. Eu só tinha certeza de três coisa, meu mal-estar fictício estava se tornando real, eu era um idiota (além de burro) e, eventualmente, ia acabar ficando sem as duas.
Acordei de madrugada ainda jogado no sofá, vesti meu pijama e fui dormir na cama, sem sonhos nessa noite.