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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chapter VII - Jogging

Já comentei que odeio rotinas? Então, exatamente agora o relógio marca 6:00 h, e apesar de não ter tocado despertador algum, eu já estou acordado, tudo isso porque meu relógio biológico disse que estava na hora de acordar, mas tudo bem, tempo nunca é perdido.
Tenho tempo de tomar meu banho sossegado, ir na padaria e comprar alguns frios para comer e esperar até o horário combinado com a Júlia. O pior é que estou ansioso, estou parecendo um adolescente, todo nervoso, estou revoltado comigo mesmo! Ela só me chamou para caminhar com ela, coisa super natural, amigos fazem isso, tenho certeza, talvez não os amigos que eu tenho, porque meus amigos são do tipo que chamam para jogar algum jogo online ou bater um papo pela internet, nunca eventos ao vivo, mas tudo bem, creio que seja normal mesmo.
Mas uma coisa me distraiu, estava eu tomando minha vitamina na sacada, quando um ser do sexo feminino que estava na sacada do outro prédio, que fica de frente para o meu, deu um tchau na minha direção, devem ser novos vizinhos, porque até semana atrás eu lembro da placa de vende/aluga presa na sacada. Garota bonita, cabelo vermelho, mas pela cor não tem como ser natural, é pintado, pelo corpo eu daria entre 16 e 18 anos, mas não deve ter sido para mim o cumprimento, certamente alguém que ela conhece do lado de cá.
Verdade que eu também não fiquei mais na sacada, para evitar qualquer outro contato ou mal entendido, liguei a tv mas não tinha nada de interessante, comecei a ler um livro então, “O Guia do mochileiro das galáxias”, um livro tosco para a maioria das pessoas, mas para mim, simplesmente fantástico, um humor típico para nerds com trocadilhos técnicos que poucos entendem, certamente eu também não entendo todos, mas já me divirto o suficiente. Pena que o livro é pequeno e já estou acabando, mas são 5 volumes, espero que os outros mantenham o mesmo nível.
O interfone toca e a Júlia me diz que está descendo para a academia, então eu também desço para encontrar com ela.
Já estou ficando cansando de dizer como essa menina me encanta, essas calças de ginástica já modelam o corpo, e o dela, particularmente, já não parece ser do tipo que precisa modelar muito. Ela está com uma calça preta, um top preto e uma camisa branca por cima, vestimenta padrão, beleza padrão também.
Quando me vê abre um sorriso e vem me cumprimentar, o costumeiro beijo no rosto. Já comentei que odeio protocolos? Acho desnecessário cumprimentar com beijo no rosto ou aperto de mão aqueles que vemos diariamente, é perca de tempo! Eu tenho um amigo, que se pudesse, ele ia e voltava cumprimentando todos, várias vezes por dia, eu sou do tipo que se pudesse teleportava para não ter que cumprimentar ninguém. Eu não me importo em pegar na mão de ninguém, beijar o rosto de ninguém, mas é que é algo desnecessário para quem se vê todos os dias.
- Dormiu bem?
- Ah, dormi sim, e você moça?
- Engraçado você me chamar de moça...
- Mas você é uma moça, certo? - Ela riu.
- Cara, olhando você de longe eu não imaginava que você era sim sociável, do tipo que faz piadinhas, eu nunca acreditei quando a dona Maria falava.
- Hum, então quer dizer que você e dona Maria ficam falando a meu respeito?
- Quase nada, só um comentário ou outro, quando você faz alguma atrapalhada.
- Mas se é estranho eu te chamar de moça, como prefere que eu te chame?
- Ah, ontem você me chamou de flor, e normalmente me chama de Júlia. Meus amigos costumam me chamar de Jú, você pode me chamar assim, acho que você já merece ser meu amigo. Mas também gostei quando me chamou de flor, pode continuar se quiser.
Toda mulher gosta de ser chamada de flor, interessante isso, eu costumo chamar todo mundo assim, inclusive amigos homens quando falo pelo telefone, quem não me conhece pode estranhar, mas depois vira piada, e muitos amigos meus me chamam assim também (pelo telefone, claro). Tenho um amigo que sempre quando me liga, me chama de samambaia, uma diversão a parte e uma brincadeira saudável.
- Perai, quer dizer que eu já mereço ser seu amigo? - Falei rindo, e ela respondeu da mesma forma, então saímos dos condomínio, em direção a estação de metrô.
Chegando na estação, depois de eu comprar o meu bilhete, uma vez que ela possuia cartão, na hora de passar pela porta do metro eu deixei ela passar a frente e encostei nas costas dela, da forma como você faz quando está acompanhando alguém. Nesse momento ela olhou para trás, por sobre o ombro, em primeiro ela estava com uma cara de surpresa, igual aquela que as pessoas fazem quando você toca no ombro de alguém para chamar, mas assim que percebeu que era eu quem tinha encostado, apenas deu um sorriso e continuou entrando no vagão.
Momentos como esse fazem parte do meu laboratório, porque tentei tocar bem no meio das costas, muito acima passa a imagem de amigo, muito abaixo passa a imagem de segundas intenções, onde eu toquei não quer dizer nada, mas faz ela pensar o motivo de eu ter feito aquilo.
O vagão estava com poucas pessoas, mas não tinha nenhum assento duplo livre, então, para não sentar longe dela, fiquei de pé ao seu lado, e ela ficou sentada. Nesse momento boas lembraças vieram a minha mente, de quando estava na faculdade, e por vezes tinha que pegar o metrô, também ainda no começo da minha carreira, onde apesar de já possuir um carro nem sempre era viável me locomover com ele, e por diversar vezes tive que entrar naquele vagão abarrotado de pessoas, isso quando não saía dele sem querer, porque no meio do fluxo que queria sair eu era jogado para fora e tinha que entrar no próximo. Tempos difíceis, mas bons tempos, não tenho nada a reclamar.
Quando o vagão começava a se locomover a moça que estava sentada do lado da Júlia fez um comentário que me deixou sem graça:
- Ei, rapaz, pode sentar aqui com sua namorada, eu sento do outro lado com aquela senhora.
- Hã...? - Travei na hora.
- Muito obrigada, não precisava. - Responde a Júlia.
E como não se bastasse, enquanto eu estava ali de pé, ainda atônito, ela olha para mim fixamente e aponta com a cabeça para o assento livre ao seu lado, como quem disse: - Ali seu tonto, você se senta ali agora!
Claro que eu não poderia deixar quieto:
- Quer dizer então que agora somos namorados?
- Claro que sim, afinal de contas você tem me dado aulas de matemática!
- Uau, vou ligar para meus pais, eles irão ficar feliz em saber que eu já tive dezenas de namoradas! - Certo que eu já dei mais aulas para homens do que para mulheres, mas achei melhor não comentar isso.
- Eu já vi caras com preferências por loiras ou morenas, mas por garotas que não sabem matemática é a primeira vez...
Não tive como segurar, nós dois estávamos rindo agora.
- Quer dizer então que vou ter que conversar com tua mão agora?
- Não, claro que não, ela não é tão controladora assim, apenas cumprimente ela no corredor e já está bom, o que você tem que fazer agora é me levar para jantar, e é claro, pagar a conta sozinho...
Troca de olhares, os dois vão puxando o ar bem devagar até que o pulmão se enche por completo, segura um pouco, depois solta bem devagar, segundos que pareceram durar bem mais do que realmente foram. Faltou apenas uma coisa naquele exato instante, um beijo, certamente se eu tivesse feito o movimento ela teria cedido, mas minha maldita cabeça que pensa rápido demais me disse algumas coisas: “ela mora no seu prédio, se vocês terminarem vai ser constrangedor ela vendo outras garotas indo para seu prédio, ainda mais se ela tiver sentimentos por você”, “o que você vai fazer com a Rafaela?”, “ela é uma garota simples, não te conhece, está apenas impressionada pelo que você se mostrou ser”, “isso não passa de um momento, foi uma piada dela mal colocada”...
Eu fiquei sem saber o que falar, ou como reagir, foi daí que lembrei de um saudoso amigo meu, o verdadeiro nome dele era tão pouco usado que eu nem me lembrava mais, apenas chamava ele de Bidi, o apelido costumava ser maior, mas também foi se perdendo ao longo do tempo. Teve uma vez que estavamos numa rodinha, conversando com algumas garotas, estavam o Rafa, o Bidi, eu e mais três garotas que tinhamos acabado de conhecer, o papo estava agradável, todos rindo, mas o Bidi estava meio quieto, sem falar muito, ele costumava travar nessas horas também, até que ele toca o braço da menina que estava de olho e fala: - Ei, escuta... - Neste momento eu até parei e virei para escutar, o Rafa fez o mesmo, pois já sabia que vinha uma pérola...
- Sabe, eu tenho um irmão, e ele trabalha de advogado na prefeitura.
Todo mundo vira para o Bidi, com um expressão de “Hã?”, ele com maior cara de feliz, como se tivesse ganho a garota. O Bidi é fantástico, ele consegue fazer um discurso de 8 horas no improviso, claro que não vai dizer nada com nada, mas vai deixar boas lembranças para quem ouvir.
- Passe no vestibular que eu te pago o jantar, afinal de contas, o que você espera de um namorado que é professor? - Acho que peguei pesado demais, fui mais grosso do que queria, mas foi a melhor coisa que consegui pensar no momento, e foi difícil, eu já estava observando demais os detalhes da boca dela, estava quase sendo atraído magneticamente.
- Haha, justo, pode começar a escolher o local, eu nem iria prestar esse vestibular de meio de ano, mas como não quero esperar até o ultimo trimestre do ano para ganhar meu jantar acho que vou fazer o de agora mesmo.
O metrô chegou no nosso destino, subimos e fomos fazer nossa caminhada no parque. O clima estava bom, várias pessoas faziam caminhada, de todas as idades, não imaginava que haveriam tantas pessoas.
Conversávamos enquanto caminhávamos, era quase um monólogo, ela queria falar e eu não me importava de escutar, sempre assim, as pessoas falam comigo, eu procurava fazer perguntas que incentivavam mais ainda ela falar, perguntei sobre o trabalho, família, religião, política, e diversos assuntos que me dessem uma base de quem ela era e como ela pensava. Na verdade ela me supreendeu, podia até ser uma garota humilde e de poucos conhecimentos, mas era assim pelas oportunidades que teve na vida, talvez pecasse por nunca ter corrido atrás de coisas que não estavam ao seu alcance, faltava atitude, mas ela tinha personalidade, vez ou outra eu confrontava opniões dela, só para ver como se comportava, e ela argumentava, continuava firme, tinha um caráter forte, pessoas assim costumam me atrair.
No final das contas voltamos para casa novamente de metrô, desta vez encontramos um assento duplo, o que não deixou espaço para nenhum outro comentário de terceiros que gerasse um novo constrangimento.
Chegando ao apartamento, fiz questão de subir pelas escadas com ela - que mora no primeiro andar - antes de pegar meu elevador. Na porta da casa dela, antes de entrar, ela meu deu um abraço para se despedir, dessa vez eu não ganhei o beijo no rosto, mas foi um abraço mais forte, e enquanto ainda abraçados, ela me disse: - Obrigado pela companhia e pela boa conversa, faz tempo que não me distraía assim, seu conceito comigo só melhora a cada dia. E se afastou sorrindo.
Quando virei as costas e ia entrando no elevador (que coincidentemente já estava naquele andar) ela pediu para eu esperar e veio na minha direção com passos mais rápios que o comum, mas não chegava a ser correndo, como quem faz cooper. Quando ela chegou ao meu lado a porta já estava aberta, ela disse:
- Ei, esqueci algo.
E se aproximou e deu o costumeiro beijo no meu rosto.
Meu primeiro pensamento foi puxar ela para dentro o elevador e pressioná-la contra a parede enquanto aplicava um beijo, minha mão passando pelos cabelos negros enquanto ela grudava na minha camisa pelas costas me puxando contra o próprio corpo. Mas é claro que isso não aconteceu, mas foi como se eu tivesse vivenciado aquilo, e eu que falei que faltava atitude nela, fiquei ali, parado, ela na minha frente, como quem espera por algo, foi quando a porta do elevador fechou novamente que ela cortou o silêncio:
- Você não vai subir? E riu.
- Claro que não, vou esperar você atravessar a porta primeiro, seria falta de educação subir antes de ter certeza que você chegou em casa segura.
- Mas antes você já estava entrando no elevador...
- Você tinha se esquecido de algo, eu também, estamos quites!
- Certo então, até qualquer hora.
- Até, e bom trabalho.
Quando entrei no elevador encostei na parede e bati a cabeça contra a chapa de metal e fiquei olhando para cima, não acreditava que tinha deixado passar aquele momento, aliás, dois momentos no mesmo dia, certas coisas temos que aproveitar a primeira oportunidade, nunca sabemos se teremos uma segunda chance, no meu caso, teria que esperar pela terceira, só espero que a tenha, e que demore tempo suficiente para eu decidir se vou ou não entrar nessa. Verdade também foi que mesmo sem ter pensando nisso no momento, o elevador tem câmeras, o porteiro teria visto e rapidamente todo mundo estaria sabendo, a quanto mais gente sabendo mais sério ficaria a situação. Não foi um erro completo, pelo menos prefiro pensar assim.
Quando cheguei no meu apartamento a primeira coisa que fiz foi procurar meu celular, três ligações perdidas e duas mensagens. Todas da Rafaela.
A primeira mensagem era um convite para almoçar, meio dia num restaurante que eu desconhecia, mas dizia também para eu confirmar até as 10:30h porque era necessário fazer reservas até as 11h. A segunda mensagem, com horário de 10:50h, cancelava o compromisso, terminava com “fica para a próxima”. Agora eram 11:15h.
O que fazer? Ligar agora e se desculpar? Mas eu não tinha cometido erro algum, me desculpar não é muito minha praia, ainda mais quando não fiz nada de errado, não faz muito meu tipo isso. Entrei na internet, pesquisei o restaurante, nada familiar, naveguei um pouco e entrei nas fotos da cozinha, lá estava o Joel, com roupa de Chef, um velho conhecido e ex-cozinheiro no Consulado, não tinha o número dele, mas era fácil conseguir. Liguei para meu amigo dono do Consulado, perguntei sobre o Joel e ele disse que tinha saído por ter recebido uma proposta para se tornar Chef em outro restaurante, perguntei se ainda tinha o contato dele.
- Tenho sim, te mando o número por SMS, mas porquê?
- Longa história, sem tempo agora, próxima vez que aparecer por aí eu te explico.
- Certo então, já estou enviando.
- Obrigado e até.
Mal desliguei o telefone e chega a mensagem, já disse que amo tecnologia? Pois bem, amo, e muito!
Liguei para o Joel, perguntei se tinha como quebrar um galho e conseguir reservas, ele disse que sim e fazia questão de preparar um prato especial, e agradeci, faltava agora o mais complicado: a Rafaela.
“Deixe seu recado após o sinal”.
Caixa de mensagem, tocou e ninguém atendeu, correria por nada, talvez seja um castigo por estar envolvido com duas, mas afinal de contas, não fiz promessas a nenhuma das duas, tudo aconteceu muito rápido, a culpa não é minha.
Meu celular toca, antes que visse o nome vi a foto da Rafaela no fundo, nem tudo parecia estar dando errado.
- Bruno? Você me ligou?
- Yeap, mas como foi você quem me ligou primeiro eu acho justo que você fale primeiro.
- Hã, nada não, queria te convidar para almoçar, retribuir seu convite, mas já que não consegui falar com você resolvi fazer algo em casa mesmo, fica para a próxima.
- Ainda interessada em almoçar comigo? Se quiser eu passo ai na tua casa e te levo para comer em um lugar bacana, te garanto que vai adorar!
- Não sei, não gosto de comer fora de casa nos finais de semana, prefiro cozinhar em casa, já como em restaurante em todos dias úteis. Estava abrindo uma exceção apenas porque o Capital Social é muito bom, e é impossível conseguir reservas nele durante a semana, mas agora já tarde demais.
- Eu garanto que você não vai se arrepender, eu sou bom com surpresas, confia em mim.
- Tá bom então, onde é este restaurante?
- Surpresa, me passe seu endereço que eu te busco, ou marcamos algum lugar para que te pegue.
- Hum, quem garante que você não vai me sequestrar?
- Não posso negar que até estou com vontade disso, mas prometi a minha mãe que não faria mais isso...
- Tá bom então, na tua palavra com a tua mãe eu confio, eu te mando meu endereço por SMS, pode ser?
- Perfeito. - Eu já falei que amo tecnologia hoje?
- E como eu devo me vestir?
- Bom, digamos que você pode se vestir da mesma forma como iria para o restaurante que queria, acho que para onde eu vou te levar o padrão é exatamente o mesmo. - Ela não pode ver pelo telefone, mas lá estava aquele sorriso sarcástico no meu rosto.
Tomar banho, colocar alguma roupa apresentável e ver no que vai dar, espero que ela goste da surpresa. No entanto não achava o meu blazer preto, nessas horas a solução mais rápida é ligar para a dona Maria.
- Bom dia querido, como foi sua manhã?
- Bom dia dona Maria, e eu sei que a senhora sabe que eu fui caminhar com a Júlia no parque, não me venha com essas suas perguntinhas que eu a conheço muito bem!
Ela riu, como sempre faz quando está querendo insinuar algo.
- Eu estava na casa dela quando vocês chegaram, estava com um sorrisão estampado no rosto, eu perguntei: - Nossa, que sorriso bonito nesse no rosto, vai nos contar o que que aconteceu? Ela disse que nada, e foi tomar o banho dela.
- Realmente tivemos bons momentos, mas não aconteceu nada que fosse deixar a senhora empolgada.
- Por enquanto meu garoto, por enquanto...
- Bom, vamos do assunto da minha vida para as minhas roupas, por acaso a senhora viu o meu blazer preto?
- Ah, está aqui em casa, quando lavei ele perdeu um botão, trouxe para cá para concertar, ia levar na segunda, mas se quiser eu levo para você agora, já concertei.
- Sem problemas, eu desço ai para buscar na hora que estiver saindo.
- Tudo bem, vou passando ele.
Quinze minutos mais tarde eu estava na porta da dona Maria.
- Aqui está querido... hum, perfumado, uma hora dessas? Aonde está indo assim todo cheiroso e arrumado?
- Apenas um almoço com uma amiga, nada de mais.
- Eu sabia! Depois diz que não tem nada demais entre você e a Julinha, você só passa perfume quando tem segundas intenções, te conheço!
Nesse exato momento, a porta ao lado abre, e por ela sai a Júlia, vestida para trabalho, com o uniforme da loja, mochila nas costas, qualquer um que olhasse saberia que nós dois não estávamos indo para o mesmo lugar. Dona Maria percorreu os olhos da Júlia até mim, e eu pude sentir o peso da seriedade dos olhos dela.
A Júlia cumprimentou com um sorriso enquanto dava um tchau com a mão e seguiu para as escadas.
- Sério Bruno? Você vai fazer isso com a garota? Até você?
- Eu não disse nada, não prometi nada, a Júlia é apenas uma amiga, a senhora que está cheia de esperanças, e também estou indo almoçar com uma amiga, nada demais.
- Então avise a coitada que você é apenas amigo dela, não deixa ela tirar as mesmas conclusões que eu.
- Por quê? Ela disse algo?
- E precisa? É só olhar o brilho nos olhinhos dela que já diz tudo!
Droga, sempre assim, eu não faço nada de errado, não aproveito certas oportunidades por pensar demais nos outros, não querer machucar ninguém, e o que acontece? Sempre levo a culpa.
- A senhora pode ficar tranquila que eu não vou enganar ninguém, não sou desse tipo, e não gosto de ser confundido.
- Bom mesmo, senão além de perder a Júlia você também vai me perder junto!
- Eu diria para a senhora não misturar as coisas, mas como sei o que vou fazer, não tem o porquê de me preocupar com essa ameaça. Tchau.
Ela não se despediu, apenas entrou e fechou a porta.
Agora todo o cenário não saía da minha cabeça. Eu deveria ter beijado a Júlia no elevador, ter ignorado o contato da Rafaela, todos estariam felizes agora, talvez não amanhã, mas agora tudo estaria ok.
Talvez esse seja meu maior problema, penso muito no amanhã e nos outros, tanto que acabo deixando de viver o meu presente.
Tentei deixar minha mente limpa, programei o GPS e vou tentar não pensar nesse assunto no trajeto até a casa da Rafaela, quem sabe o almoço com ela não tire as dúvidas da minha cabeça?

4 comentários:

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Eu pensei em muitas coisas enquanto lia, mas agora não lembro mais =x Só se eu lesse tudo de novo xP

E nao acho perca de tempo ser carinhoso com os amigos... adoro abraça-los e beija-los. Só não gosto dos dois beijinhos, pq parece coisa de etiqueta. Mas isso é o que pensa seu personagem, não necessariamente vc.

E vê se contínua essa história!

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

eu fiquei matutando sobre se vc tinha falado que odiava rotina, pq eu tinha tido a impressão q vc gostava da rotina. vc narrador-personagem...

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

seu personagem morreu :(

sue disse...

Sinto falta de seus textos. Mas, as vezes, certas lacunas podem vir a ser necessárias! (:

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