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segunda-feira, 11 de julho de 2011

Chapter VII - Jogging

Já comentei que odeio rotinas? Então, exatamente agora o relógio marca 6:00 h, e apesar de não ter tocado despertador algum, eu já estou acordado, tudo isso porque meu relógio biológico disse que estava na hora de acordar, mas tudo bem, tempo nunca é perdido.
Tenho tempo de tomar meu banho sossegado, ir na padaria e comprar alguns frios para comer e esperar até o horário combinado com a Júlia. O pior é que estou ansioso, estou parecendo um adolescente, todo nervoso, estou revoltado comigo mesmo! Ela só me chamou para caminhar com ela, coisa super natural, amigos fazem isso, tenho certeza, talvez não os amigos que eu tenho, porque meus amigos são do tipo que chamam para jogar algum jogo online ou bater um papo pela internet, nunca eventos ao vivo, mas tudo bem, creio que seja normal mesmo.
Mas uma coisa me distraiu, estava eu tomando minha vitamina na sacada, quando um ser do sexo feminino que estava na sacada do outro prédio, que fica de frente para o meu, deu um tchau na minha direção, devem ser novos vizinhos, porque até semana atrás eu lembro da placa de vende/aluga presa na sacada. Garota bonita, cabelo vermelho, mas pela cor não tem como ser natural, é pintado, pelo corpo eu daria entre 16 e 18 anos, mas não deve ter sido para mim o cumprimento, certamente alguém que ela conhece do lado de cá.
Verdade que eu também não fiquei mais na sacada, para evitar qualquer outro contato ou mal entendido, liguei a tv mas não tinha nada de interessante, comecei a ler um livro então, “O Guia do mochileiro das galáxias”, um livro tosco para a maioria das pessoas, mas para mim, simplesmente fantástico, um humor típico para nerds com trocadilhos técnicos que poucos entendem, certamente eu também não entendo todos, mas já me divirto o suficiente. Pena que o livro é pequeno e já estou acabando, mas são 5 volumes, espero que os outros mantenham o mesmo nível.
O interfone toca e a Júlia me diz que está descendo para a academia, então eu também desço para encontrar com ela.
Já estou ficando cansando de dizer como essa menina me encanta, essas calças de ginástica já modelam o corpo, e o dela, particularmente, já não parece ser do tipo que precisa modelar muito. Ela está com uma calça preta, um top preto e uma camisa branca por cima, vestimenta padrão, beleza padrão também.
Quando me vê abre um sorriso e vem me cumprimentar, o costumeiro beijo no rosto. Já comentei que odeio protocolos? Acho desnecessário cumprimentar com beijo no rosto ou aperto de mão aqueles que vemos diariamente, é perca de tempo! Eu tenho um amigo, que se pudesse, ele ia e voltava cumprimentando todos, várias vezes por dia, eu sou do tipo que se pudesse teleportava para não ter que cumprimentar ninguém. Eu não me importo em pegar na mão de ninguém, beijar o rosto de ninguém, mas é que é algo desnecessário para quem se vê todos os dias.
- Dormiu bem?
- Ah, dormi sim, e você moça?
- Engraçado você me chamar de moça...
- Mas você é uma moça, certo? - Ela riu.
- Cara, olhando você de longe eu não imaginava que você era sim sociável, do tipo que faz piadinhas, eu nunca acreditei quando a dona Maria falava.
- Hum, então quer dizer que você e dona Maria ficam falando a meu respeito?
- Quase nada, só um comentário ou outro, quando você faz alguma atrapalhada.
- Mas se é estranho eu te chamar de moça, como prefere que eu te chame?
- Ah, ontem você me chamou de flor, e normalmente me chama de Júlia. Meus amigos costumam me chamar de Jú, você pode me chamar assim, acho que você já merece ser meu amigo. Mas também gostei quando me chamou de flor, pode continuar se quiser.
Toda mulher gosta de ser chamada de flor, interessante isso, eu costumo chamar todo mundo assim, inclusive amigos homens quando falo pelo telefone, quem não me conhece pode estranhar, mas depois vira piada, e muitos amigos meus me chamam assim também (pelo telefone, claro). Tenho um amigo que sempre quando me liga, me chama de samambaia, uma diversão a parte e uma brincadeira saudável.
- Perai, quer dizer que eu já mereço ser seu amigo? - Falei rindo, e ela respondeu da mesma forma, então saímos dos condomínio, em direção a estação de metrô.
Chegando na estação, depois de eu comprar o meu bilhete, uma vez que ela possuia cartão, na hora de passar pela porta do metro eu deixei ela passar a frente e encostei nas costas dela, da forma como você faz quando está acompanhando alguém. Nesse momento ela olhou para trás, por sobre o ombro, em primeiro ela estava com uma cara de surpresa, igual aquela que as pessoas fazem quando você toca no ombro de alguém para chamar, mas assim que percebeu que era eu quem tinha encostado, apenas deu um sorriso e continuou entrando no vagão.
Momentos como esse fazem parte do meu laboratório, porque tentei tocar bem no meio das costas, muito acima passa a imagem de amigo, muito abaixo passa a imagem de segundas intenções, onde eu toquei não quer dizer nada, mas faz ela pensar o motivo de eu ter feito aquilo.
O vagão estava com poucas pessoas, mas não tinha nenhum assento duplo livre, então, para não sentar longe dela, fiquei de pé ao seu lado, e ela ficou sentada. Nesse momento boas lembraças vieram a minha mente, de quando estava na faculdade, e por vezes tinha que pegar o metrô, também ainda no começo da minha carreira, onde apesar de já possuir um carro nem sempre era viável me locomover com ele, e por diversar vezes tive que entrar naquele vagão abarrotado de pessoas, isso quando não saía dele sem querer, porque no meio do fluxo que queria sair eu era jogado para fora e tinha que entrar no próximo. Tempos difíceis, mas bons tempos, não tenho nada a reclamar.
Quando o vagão começava a se locomover a moça que estava sentada do lado da Júlia fez um comentário que me deixou sem graça:
- Ei, rapaz, pode sentar aqui com sua namorada, eu sento do outro lado com aquela senhora.
- Hã...? - Travei na hora.
- Muito obrigada, não precisava. - Responde a Júlia.
E como não se bastasse, enquanto eu estava ali de pé, ainda atônito, ela olha para mim fixamente e aponta com a cabeça para o assento livre ao seu lado, como quem disse: - Ali seu tonto, você se senta ali agora!
Claro que eu não poderia deixar quieto:
- Quer dizer então que agora somos namorados?
- Claro que sim, afinal de contas você tem me dado aulas de matemática!
- Uau, vou ligar para meus pais, eles irão ficar feliz em saber que eu já tive dezenas de namoradas! - Certo que eu já dei mais aulas para homens do que para mulheres, mas achei melhor não comentar isso.
- Eu já vi caras com preferências por loiras ou morenas, mas por garotas que não sabem matemática é a primeira vez...
Não tive como segurar, nós dois estávamos rindo agora.
- Quer dizer então que vou ter que conversar com tua mão agora?
- Não, claro que não, ela não é tão controladora assim, apenas cumprimente ela no corredor e já está bom, o que você tem que fazer agora é me levar para jantar, e é claro, pagar a conta sozinho...
Troca de olhares, os dois vão puxando o ar bem devagar até que o pulmão se enche por completo, segura um pouco, depois solta bem devagar, segundos que pareceram durar bem mais do que realmente foram. Faltou apenas uma coisa naquele exato instante, um beijo, certamente se eu tivesse feito o movimento ela teria cedido, mas minha maldita cabeça que pensa rápido demais me disse algumas coisas: “ela mora no seu prédio, se vocês terminarem vai ser constrangedor ela vendo outras garotas indo para seu prédio, ainda mais se ela tiver sentimentos por você”, “o que você vai fazer com a Rafaela?”, “ela é uma garota simples, não te conhece, está apenas impressionada pelo que você se mostrou ser”, “isso não passa de um momento, foi uma piada dela mal colocada”...
Eu fiquei sem saber o que falar, ou como reagir, foi daí que lembrei de um saudoso amigo meu, o verdadeiro nome dele era tão pouco usado que eu nem me lembrava mais, apenas chamava ele de Bidi, o apelido costumava ser maior, mas também foi se perdendo ao longo do tempo. Teve uma vez que estavamos numa rodinha, conversando com algumas garotas, estavam o Rafa, o Bidi, eu e mais três garotas que tinhamos acabado de conhecer, o papo estava agradável, todos rindo, mas o Bidi estava meio quieto, sem falar muito, ele costumava travar nessas horas também, até que ele toca o braço da menina que estava de olho e fala: - Ei, escuta... - Neste momento eu até parei e virei para escutar, o Rafa fez o mesmo, pois já sabia que vinha uma pérola...
- Sabe, eu tenho um irmão, e ele trabalha de advogado na prefeitura.
Todo mundo vira para o Bidi, com um expressão de “Hã?”, ele com maior cara de feliz, como se tivesse ganho a garota. O Bidi é fantástico, ele consegue fazer um discurso de 8 horas no improviso, claro que não vai dizer nada com nada, mas vai deixar boas lembranças para quem ouvir.
- Passe no vestibular que eu te pago o jantar, afinal de contas, o que você espera de um namorado que é professor? - Acho que peguei pesado demais, fui mais grosso do que queria, mas foi a melhor coisa que consegui pensar no momento, e foi difícil, eu já estava observando demais os detalhes da boca dela, estava quase sendo atraído magneticamente.
- Haha, justo, pode começar a escolher o local, eu nem iria prestar esse vestibular de meio de ano, mas como não quero esperar até o ultimo trimestre do ano para ganhar meu jantar acho que vou fazer o de agora mesmo.
O metrô chegou no nosso destino, subimos e fomos fazer nossa caminhada no parque. O clima estava bom, várias pessoas faziam caminhada, de todas as idades, não imaginava que haveriam tantas pessoas.
Conversávamos enquanto caminhávamos, era quase um monólogo, ela queria falar e eu não me importava de escutar, sempre assim, as pessoas falam comigo, eu procurava fazer perguntas que incentivavam mais ainda ela falar, perguntei sobre o trabalho, família, religião, política, e diversos assuntos que me dessem uma base de quem ela era e como ela pensava. Na verdade ela me supreendeu, podia até ser uma garota humilde e de poucos conhecimentos, mas era assim pelas oportunidades que teve na vida, talvez pecasse por nunca ter corrido atrás de coisas que não estavam ao seu alcance, faltava atitude, mas ela tinha personalidade, vez ou outra eu confrontava opniões dela, só para ver como se comportava, e ela argumentava, continuava firme, tinha um caráter forte, pessoas assim costumam me atrair.
No final das contas voltamos para casa novamente de metrô, desta vez encontramos um assento duplo, o que não deixou espaço para nenhum outro comentário de terceiros que gerasse um novo constrangimento.
Chegando ao apartamento, fiz questão de subir pelas escadas com ela - que mora no primeiro andar - antes de pegar meu elevador. Na porta da casa dela, antes de entrar, ela meu deu um abraço para se despedir, dessa vez eu não ganhei o beijo no rosto, mas foi um abraço mais forte, e enquanto ainda abraçados, ela me disse: - Obrigado pela companhia e pela boa conversa, faz tempo que não me distraía assim, seu conceito comigo só melhora a cada dia. E se afastou sorrindo.
Quando virei as costas e ia entrando no elevador (que coincidentemente já estava naquele andar) ela pediu para eu esperar e veio na minha direção com passos mais rápios que o comum, mas não chegava a ser correndo, como quem faz cooper. Quando ela chegou ao meu lado a porta já estava aberta, ela disse:
- Ei, esqueci algo.
E se aproximou e deu o costumeiro beijo no meu rosto.
Meu primeiro pensamento foi puxar ela para dentro o elevador e pressioná-la contra a parede enquanto aplicava um beijo, minha mão passando pelos cabelos negros enquanto ela grudava na minha camisa pelas costas me puxando contra o próprio corpo. Mas é claro que isso não aconteceu, mas foi como se eu tivesse vivenciado aquilo, e eu que falei que faltava atitude nela, fiquei ali, parado, ela na minha frente, como quem espera por algo, foi quando a porta do elevador fechou novamente que ela cortou o silêncio:
- Você não vai subir? E riu.
- Claro que não, vou esperar você atravessar a porta primeiro, seria falta de educação subir antes de ter certeza que você chegou em casa segura.
- Mas antes você já estava entrando no elevador...
- Você tinha se esquecido de algo, eu também, estamos quites!
- Certo então, até qualquer hora.
- Até, e bom trabalho.
Quando entrei no elevador encostei na parede e bati a cabeça contra a chapa de metal e fiquei olhando para cima, não acreditava que tinha deixado passar aquele momento, aliás, dois momentos no mesmo dia, certas coisas temos que aproveitar a primeira oportunidade, nunca sabemos se teremos uma segunda chance, no meu caso, teria que esperar pela terceira, só espero que a tenha, e que demore tempo suficiente para eu decidir se vou ou não entrar nessa. Verdade também foi que mesmo sem ter pensando nisso no momento, o elevador tem câmeras, o porteiro teria visto e rapidamente todo mundo estaria sabendo, a quanto mais gente sabendo mais sério ficaria a situação. Não foi um erro completo, pelo menos prefiro pensar assim.
Quando cheguei no meu apartamento a primeira coisa que fiz foi procurar meu celular, três ligações perdidas e duas mensagens. Todas da Rafaela.
A primeira mensagem era um convite para almoçar, meio dia num restaurante que eu desconhecia, mas dizia também para eu confirmar até as 10:30h porque era necessário fazer reservas até as 11h. A segunda mensagem, com horário de 10:50h, cancelava o compromisso, terminava com “fica para a próxima”. Agora eram 11:15h.
O que fazer? Ligar agora e se desculpar? Mas eu não tinha cometido erro algum, me desculpar não é muito minha praia, ainda mais quando não fiz nada de errado, não faz muito meu tipo isso. Entrei na internet, pesquisei o restaurante, nada familiar, naveguei um pouco e entrei nas fotos da cozinha, lá estava o Joel, com roupa de Chef, um velho conhecido e ex-cozinheiro no Consulado, não tinha o número dele, mas era fácil conseguir. Liguei para meu amigo dono do Consulado, perguntei sobre o Joel e ele disse que tinha saído por ter recebido uma proposta para se tornar Chef em outro restaurante, perguntei se ainda tinha o contato dele.
- Tenho sim, te mando o número por SMS, mas porquê?
- Longa história, sem tempo agora, próxima vez que aparecer por aí eu te explico.
- Certo então, já estou enviando.
- Obrigado e até.
Mal desliguei o telefone e chega a mensagem, já disse que amo tecnologia? Pois bem, amo, e muito!
Liguei para o Joel, perguntei se tinha como quebrar um galho e conseguir reservas, ele disse que sim e fazia questão de preparar um prato especial, e agradeci, faltava agora o mais complicado: a Rafaela.
“Deixe seu recado após o sinal”.
Caixa de mensagem, tocou e ninguém atendeu, correria por nada, talvez seja um castigo por estar envolvido com duas, mas afinal de contas, não fiz promessas a nenhuma das duas, tudo aconteceu muito rápido, a culpa não é minha.
Meu celular toca, antes que visse o nome vi a foto da Rafaela no fundo, nem tudo parecia estar dando errado.
- Bruno? Você me ligou?
- Yeap, mas como foi você quem me ligou primeiro eu acho justo que você fale primeiro.
- Hã, nada não, queria te convidar para almoçar, retribuir seu convite, mas já que não consegui falar com você resolvi fazer algo em casa mesmo, fica para a próxima.
- Ainda interessada em almoçar comigo? Se quiser eu passo ai na tua casa e te levo para comer em um lugar bacana, te garanto que vai adorar!
- Não sei, não gosto de comer fora de casa nos finais de semana, prefiro cozinhar em casa, já como em restaurante em todos dias úteis. Estava abrindo uma exceção apenas porque o Capital Social é muito bom, e é impossível conseguir reservas nele durante a semana, mas agora já tarde demais.
- Eu garanto que você não vai se arrepender, eu sou bom com surpresas, confia em mim.
- Tá bom então, onde é este restaurante?
- Surpresa, me passe seu endereço que eu te busco, ou marcamos algum lugar para que te pegue.
- Hum, quem garante que você não vai me sequestrar?
- Não posso negar que até estou com vontade disso, mas prometi a minha mãe que não faria mais isso...
- Tá bom então, na tua palavra com a tua mãe eu confio, eu te mando meu endereço por SMS, pode ser?
- Perfeito. - Eu já falei que amo tecnologia hoje?
- E como eu devo me vestir?
- Bom, digamos que você pode se vestir da mesma forma como iria para o restaurante que queria, acho que para onde eu vou te levar o padrão é exatamente o mesmo. - Ela não pode ver pelo telefone, mas lá estava aquele sorriso sarcástico no meu rosto.
Tomar banho, colocar alguma roupa apresentável e ver no que vai dar, espero que ela goste da surpresa. No entanto não achava o meu blazer preto, nessas horas a solução mais rápida é ligar para a dona Maria.
- Bom dia querido, como foi sua manhã?
- Bom dia dona Maria, e eu sei que a senhora sabe que eu fui caminhar com a Júlia no parque, não me venha com essas suas perguntinhas que eu a conheço muito bem!
Ela riu, como sempre faz quando está querendo insinuar algo.
- Eu estava na casa dela quando vocês chegaram, estava com um sorrisão estampado no rosto, eu perguntei: - Nossa, que sorriso bonito nesse no rosto, vai nos contar o que que aconteceu? Ela disse que nada, e foi tomar o banho dela.
- Realmente tivemos bons momentos, mas não aconteceu nada que fosse deixar a senhora empolgada.
- Por enquanto meu garoto, por enquanto...
- Bom, vamos do assunto da minha vida para as minhas roupas, por acaso a senhora viu o meu blazer preto?
- Ah, está aqui em casa, quando lavei ele perdeu um botão, trouxe para cá para concertar, ia levar na segunda, mas se quiser eu levo para você agora, já concertei.
- Sem problemas, eu desço ai para buscar na hora que estiver saindo.
- Tudo bem, vou passando ele.
Quinze minutos mais tarde eu estava na porta da dona Maria.
- Aqui está querido... hum, perfumado, uma hora dessas? Aonde está indo assim todo cheiroso e arrumado?
- Apenas um almoço com uma amiga, nada de mais.
- Eu sabia! Depois diz que não tem nada demais entre você e a Julinha, você só passa perfume quando tem segundas intenções, te conheço!
Nesse exato momento, a porta ao lado abre, e por ela sai a Júlia, vestida para trabalho, com o uniforme da loja, mochila nas costas, qualquer um que olhasse saberia que nós dois não estávamos indo para o mesmo lugar. Dona Maria percorreu os olhos da Júlia até mim, e eu pude sentir o peso da seriedade dos olhos dela.
A Júlia cumprimentou com um sorriso enquanto dava um tchau com a mão e seguiu para as escadas.
- Sério Bruno? Você vai fazer isso com a garota? Até você?
- Eu não disse nada, não prometi nada, a Júlia é apenas uma amiga, a senhora que está cheia de esperanças, e também estou indo almoçar com uma amiga, nada demais.
- Então avise a coitada que você é apenas amigo dela, não deixa ela tirar as mesmas conclusões que eu.
- Por quê? Ela disse algo?
- E precisa? É só olhar o brilho nos olhinhos dela que já diz tudo!
Droga, sempre assim, eu não faço nada de errado, não aproveito certas oportunidades por pensar demais nos outros, não querer machucar ninguém, e o que acontece? Sempre levo a culpa.
- A senhora pode ficar tranquila que eu não vou enganar ninguém, não sou desse tipo, e não gosto de ser confundido.
- Bom mesmo, senão além de perder a Júlia você também vai me perder junto!
- Eu diria para a senhora não misturar as coisas, mas como sei o que vou fazer, não tem o porquê de me preocupar com essa ameaça. Tchau.
Ela não se despediu, apenas entrou e fechou a porta.
Agora todo o cenário não saía da minha cabeça. Eu deveria ter beijado a Júlia no elevador, ter ignorado o contato da Rafaela, todos estariam felizes agora, talvez não amanhã, mas agora tudo estaria ok.
Talvez esse seja meu maior problema, penso muito no amanhã e nos outros, tanto que acabo deixando de viver o meu presente.
Tentei deixar minha mente limpa, programei o GPS e vou tentar não pensar nesse assunto no trajeto até a casa da Rafaela, quem sabe o almoço com ela não tire as dúvidas da minha cabeça?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Projeto Leitura - Livro 2

2. (28/04/2011) - Douglas Adams - O Restaurante no Fim do Universo (171)


Segundo livro da série, tão viajante quanto o anterior, estou começando a perder a dúvida e ter a certeza que esse cara usava produtos ilícitos enquanto escrevia... Atenção especial para o capítulo 15 onde uma nova forma de se conjugar verbos é ensinada, mas a impressão que tive é que diferente do primeiro livro, esse foi escrito já se pensando na continuação, pois acaba menos conlcuido do que o anterior, mas eu também recomendaria, na verdade estou curioso para saber o desfecho final da série.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Projeto Leitura - Livro 1

Quem diria! Finalmente sai do papel meu projeto leitura!
1. (16/04/2011) - Douglas Adams - O Guia do Mochileiro das Galáxias (156)


Em uma palavra: "Viajante", em duas "Muito viajante", em três: "Viajante ao extremo".
Nenhum livro vende 15 milhões de exemplares por engano. O livro é bom, mas entendo se grande parte da população não gostar, pois ele é extremamente nerd! Fala sobre viagens espaciais, geradores de improbabilidade infinita, vetores de reação dos átomos, construção de mundos e peixes babéuzes (qual seria o plural de babel?). Eu chorei de rir, uma leitura simples e divertida, porém um tanto pesada até para os mais nerds. Recomendo!
Quem não quer ler o livro, tente o filme: O Guia do Mochileiro das Galáxias (2005) @ imdb.com

segunda-feira, 14 de março de 2011

Projeto Leitura!

Vi em um blog um dia desses o cara que fez o projeto leitura, o desafio era ler 50 livros em um ano, no primeiro ano ele conseguiu 44 e no segundo ele fechou a conta, de uma forma ou de outra, foram 94 livros lidos em 2 anos, certamente ele aumentou a média nacional com a iniciativa.
Uma coisa é fato, ler muitos livros torna difícil ler bons livros sempre. Como sei que vou ser criticado por alguns livros que vou postar, vou logo avisando que não estou nem ai, me recomende um livro que você gosta e eu leio para você x)

Como vou manipular o resultado, lógico, a data inicial vai ser quando eu postar que terminei meu primeiro livro, isso vai ser amanhã ou depois de acordo com minhas análises quânticas.

Ah, também vou colocando comentários sobre os livros lidos e a quantidade de páginas, ainda que isso possa variar de acordo com a edição (tamanho da página, ilustrações e tamanho da fonte).

T+

quinta-feira, 10 de março de 2011

Chapter VI - Parenting

    Mais uma manhã, como tantas outras, acorda, levanta, toma café e vai para academia, odeio rotinas, se são chatas de se fazer, imagina descrever, ainda mais todos os dias...
    Saí do elevador e dei de cara com a Júlia indo para a academia, ela me cumprimentou e já foi agradecendo mais uma vez pela aula de ontem:
    - Bom dia Bruno, obrigado mais uma vez por ontem.
    - Bom dia moça, e você sabe que não precisa agradecer, até achei que você foi lá em casa ontem só para eu parar de ficar te oferecendo ajuda para estudar!
    - Ah, que nada, fui porque preciso mesmo. E é, nem sei como dizer, mas me desculpe também por ontem.
- Desculpar? O que que aconteceu que eu não lembro?
- Na hora de ir embora, eu não sabia se só dizia tchau, se te cumprimentava ou te dava um abraço, e no final das contas, você foi super carinhoso e me deu um beijo na testa.
- Engraçado, porque eu meio que fiquei constrangido com isso mesmo, não sabia muito o que fazer, mas achei que você tinha ficado constrangida com minha atitude.
- Que nada, eu pensei o mesmo, também achei que você tivesse ficado sem graça por conta da minha atitude, de parar no meio da caminho e não saber o que fazer.
- Bom, de qualquer forma, foi apenas uma mal entendido, isso que importa, não é?
- É, se você não está achando que eu sou esquisita já fico mais aliviada.
- Na verdade eu acho, mas por outros motivos que não convém falar agora.
Ela riu, e continuou a série de exercícios dela, eu também fui para a minha, na hora de ir embora ela me disse que ia tentar estudar sozinha hoje, e também iria ver outras matérias. Mas foi então que fiquei surpreso, antes de sair ela chegou do meu lado e me deu um beijo no rosto, de despedida. Eu observei ela sair da academia, e fiquei ali, parado, pensando no que tinha sido aquilo. Quando ela estava na porta ainda virou, deu um sorriso e um tchauzinho com a mão.
Mulheres, mesmo quando sem querer, conseguem quebrar um homem facilmente, pequenos gestos, mas de grande eficiência. A minha dúvida agora era apenas uma, se ela estava se exibindo para mim de propósito ou era minha mente que era maliciosa. E pior de tudo, eu não sei o que eu preferiria.
Já era cerca de 10h da manhã quando meu celular tocou no trabalho, uma chamada a cobrar, para minha surpresa escutei a voz do Glauber do outro lado, fiquei realmente feliz.
- Fala rapaz, como é que você está?
- Oi seu Bruno, minha mãe quer falar com você.
E escutei ele falando com a mãe dele ao longe, não dava para escutar o que falou, e dava para ouvir o barulho dos carros passando na rua, certamente estavam falando de um orelhão.
- Oi, mãe do Glauber?
- É, oi, bom dia.
- Oi, bom dia, qual o nome da senhora?
- É, eu me chamo Deucicléia, mas todo mundo me chama de Léia, o senhor pode me chamar de Léia também.
- Um prazer falar com a senhora, como já deve saber, eu me chamo Bruno e a senhora pode me tratar por ‘você’, não precisa me chamar de senhor.
- Ah, sim, me desculpa.
- Não tem pelo que se desculpar. Mas me diga, o Glauber me disse que a senhora gostaria de falar comigo.
- É, então, meu filho me disse que o senhor, me desculpa, você queria por ele na escola e dar emprego para ele?
- Isso mesmo, queria dar uma oportunidade para ele no meu escritório, mas pela idade dele, a única forma dele trabalhar legalmente é como aprendiz, e para isso ele precisa estar estudando.
- Olha senhor, eu nem sei o que dizer, porque a gente quer muito que o filho da gente estude e tenha uma vida melhor que a nossa, eu não tenho nem como agradecer se fizer isso pelo Glauber.
- A senhora não tem o que agradecer, tem um ótimo filho, vai ser um prazer para mim ter ele trabalhando comigo.
- Mas preciso alertar você seu Bruno, o pai dele, o Gilmar, é muito bravo, fica bêbado todo dia, ele pode querer arrumar confusão.
- Confusão comigo? Impossível, ele não pode fazer nada comigo, o único perigo é ele fazer algo com a senhora e o com seu filho, mas eu estou bem.
- Mas mesmo assim, o senhor toma cuidado se ele te procurar. Mas também gostaria de saber sobre a escola, o senhor também vai ajudar nisso?
- Como assim?
- Bom, ele está atrasado, a gente tentou matricular ele mas coma já tinha começado o ano não quiseram aceitar ele.
- Hum... deixe-me ver o que eu posso fazer e depois entro em contato, mas me faça um favor, mande o Glauber aparecer aqui no escritório de tarde, quero conversar com ele.
- Pode deixar, ele vai aparecer aí, muito obrigado, muito obrigado mesmo seu Bruno.
- Eu ainda não fiz nada, a senhora não tem pelo que agradecer ainda.
As últimas palavras da mãe do Glauber vieram pesadas como se ele estivesse se segurando para não chorar, é incrível como atitudes pequenas podem fazer tanto pela vida de uma pessoa, espero que realmente tudo dê certo com esse garoto e o pai dele não me traga problemas.
Logo quando voltei do almoço o pequeno Glauber me esperava em meu escritório, estava com uma calça jeans surrada, um all star velho e uma camisa de vereador, mas para quem já tinha visto como ele andava na rua, podia-se dizer que ele estava ali em seu melhor traje.
- E ai rapaz, pronto para trabalhar?
- Opa, tô sim.
- Vem comigo que eu vou te apresentar a equipe.
E assim apresentei o Glauber para todos eles, ele estava meio tímido, e verdade que minha equipe nerd não era do tipo que se enturma rápido, ainda olhavam o menino de forma indiferente, mas uma coisa que gosto no meu ambiente de trabalho é que somos quase uma família, um cuida do outro.
- Mas então rapaz, tenho uma proposta para você, que tal a gente passar na escola que você estudava antes e dar uma conversada com a diretora?
- Por mim tudo bem chefim!
E ele falou com uma risada maliciosa, porque tinha escutado o pessoal me chamando assim, bom garoto esse Glauber!
Chegando na escola me informei na secretaria e descobri que realmente já não era possível fazer matrícula, mas insisti para conversar com a diretora da escola. Quando preciso de um favor de alguém costumo abrir o jogo logo de cara, e naquela conversa eu tinha uma vantagem, possuía moeda de barganha, era uma escola pública e eu sei que sempre precisam de ajuda para fazer diversas coisas, eu estudei em escola pública praticamente minha vida inteira, desde o ensino básico até a faculdade, sei bem qual a realidade que eles enfrentam.
A D. Rosa era dura na queda, então fui logo oferecendo vantagens. Trabalho com informática, ofereci suporte técnico total para a escola, ainda que não seja meu foco de atuação, eu mesmo poderia fazer o serviço e pretendia ensinar o Glauber para me ajudar no trabalho, mas ela queria mais, também queria uma doação de um computador, eu não queria oferecer tanto, mas pelo padrão dos computadores de lá, não iria gastar muito não, então fechei assim, mas me comprometi de acompanhar os estudos do Glauber até o meio do ano, porque em duas semanas teriam as primeiras provas e dificilmente ele estaria preparado para tirar a nota necessária. Mas ele era um bom menino, parecia empolgado com tudo aquilo, tinha certeza que ele não me decepcionaria.
Passamos na casa dele, o menino não morava, se escondia, situação bem precária, mas pelo menos tinha um teto, não morava na rua, pegamos os documentos necessários e voltamos para escola, na volta para casa passei com ele no shopping, comprei um par de tênis, duas calças, duas bermudas e quatro camisetas, ele ficou radiante, disse que nunca tinha tido tanta roupa assim, no final ele ainda disse, que na verdade não se lembrava de ter tido alguma roupa nova algum dia, toda sua roupa era ou doada por alguém ou comprada usada em algum bazar.
Eu estava feliz, acreditava estar dando uma chance aquele garoto, só esperava que ele se dedicasse a aproveitasse a oportunidade, porque essa era do tipo que não aparecia todos os dias.
Finalzinho da tarde eu passei no serviço só para deixar tudo arrumado para segunda, acabei que quase não trabalhei hoje, e sexta sempre é mais corrido, mas tudo bem, hoje o dia foi extremamente produtivo. Já aproveitei e liguei para o contador dar entrada na papelada do Glauber, nessa primeira semana ele já vai para a escola, e na próxima já pode começar a trabalhar.
Chegando em casa, quando estava entrando na garagem, meu celular recebeu um sms, depois de estacionar, vi que era da Júlia, perguntou se não ia fazer nada de noite, porque tinha novas dúvidas, mas como era sexta, talvez eu fosse sair.
Chegando no meu apartamento já liguei de volta, disse que iria comer e tomar um banho, que ela poderia subir em meia hora.
Quando ela chegou, mais uma vez fiquei sem reação com a simplicidade que ela se vestia e mesmo assim conseguia ficar linda, outra roupa, mas mesmo estilo, calça jeans, blusa com decote e cabelo com um coque.
Tudo ia bem, dessa vez ela já tinha uma lista de exercícios que não tinha conseguido resolver e eu fui explicando um a um. Era quase dez da noite quando meu celular tocou, Rafaela na linha, atendi com aquele sorriso natural no rosto, nem me afastei da sala, só levantei e me aproximei da janela, mas ainda perto o suficiente para que a Júlia conseguisse ouvir toda a minha fala, não estava tentando me exibir nem nada, mas temia que ela achasse que estava incomodando caso eu me afastasse muito.
A Rafaela estava me chamando para sair, um bar que ia ter um cover do Pearl Jeam, ela já conhecia a banda e disse que era muito boa, no entanto, foi nesse momento que eu acho que dei mancada, porque eu estava animado com a conversa, e sem maldade alguma, eu disse:
- Hoje não dá, estou ocupado essa noite, mas vou lembrar do convite para qualquer outro dia.
Nesse momento, a Júlia, que pelo meu tom já devia ter percebido que eu conversava com alguma mulher e estava em clima de flerte, me olhou de canto do olho como quem acha que está incomodando e atrapalhando, pior de tudo que eu percebi que ela percebeu, e não consegui disfarçar, o que gerou um clima estranho. Quando desliguei o celular tive até medo de fazer contato visual, ela estava com uma cara estranha, já juntava as coisas dela e disse que ia embora.
- Mas por que? Ainda tem vários exercícios para rever, não tem?
- Eu acho que dou conta sozinha, obrigado.
- Ei, ei, o que que aconteceu?
- Nada Bruno, não aconteceu nada, eu só não gosto de incomodar, e pelo visto já incomodei de mais por hoje!
- Quem disse isso? Está falando da minha conversa no celular?
- E do que mais poderia estar falando? Eu escutei você falando que hoje não dava para sair porque estava ocupado essa noite, odeio quando atrapalho os planos dos outros!
- Ei, você não está me atrapalhando, eu não estava afim de sair hoje, ainda que você não estivesse aqui eu teria dado a mesma desculpa, não tem nada a ver com você!
- Ai Bruno, eu vi o tom que você estava falando no telefone, com risinhos, é obvio que você queria sair com a tal Rafaela!
Nessa eu fiquei assustado, ela falou como se estivesse com ciúmes, eu até que gostei do tom que ela falou, mas se demonstrasse eu acho que ela me jogava pela janela. Eu dei uns dois passos a frente com uma expressão séria, fiquei a pouco menos de um metro de distância dela, mas ela estava sentada e eu de pé, e falei em tom firme:
- Júlia, eu não tenho nada com você, nada além de amizade, isso quer dizer que eu não preciso te dar satisfação dos meus afazeres, muito menos mudar eles por você, não tenha essa imagem que eu sou educado, pois eu não sou, me esforço para agradar porque sei que é melhor assim, se quisesse ir no bar com a Rafaela, teria pedido para você ir embora, eu jamais mudaria meus planos por alguém que mal conheço.
- Mas...
- Eu tive um dia corrido hoje, ir para um bar significava ficar em um ambiente cheio de barulho e voltar para casa tarde da noite, aqui em casa eu tenho conforto, silêncio e não preciso dirigir para ir embora, basta me jogar na cama, então não me venha tirando conclusões a meu respeito.
- Desculpa, eu nem sei de onde isso veio.
- Não tem o porque pedir desculpa, você não fez nada de mais, achou que estava incomodando e isso te incomodou. Mas então, qual sua próxima dúvida?
E abri um sorriso, que foi correspondido com o mesmo gesto, ela corou, ficando com vergonha, acredito eu por ter gerado toda a discussão e depois ver que eu realmente não estava chateado nem nada.
Voltamos ao estudo, ela até que me surpreendia, achava que ela era uma daquelas meninas tontas, que durante a escola ficava penteando o cabelo e falando sobre galãs do cinema no lugar de prestar atenção na aula, mas ela era esperta, aprendia muito rápido, e tinha uma característica que me incomodava, mas era exatamente como eu fazia, e só daí percebi porque as pessoas não gostavam quando eu fazia isso. As vezes, no meio de uma explicação minha, ela entendia a lógica do problema e começava a me cortar tentando me explicar o resto do problema, para mostrar que já tinha entendido, era uma coisa que eu sempre fazia e as pessoas sempre ficavam bravas, porque eu pedia uma explicação e no meio começava a interromper a pessoa e não deixava mais ela concluir a explicação. Quando percebi que ela fazia isso comecei a rir sozinho, mas apenas um sorriso no rosto, ela percebeu e perguntou o motivo, quando expliquei ela ficou com o mesmo sorriso sem graça.
Era quase meia noite quando ela foi embora, me pediu desculpas mais uma vez pelo nossa pequena discussão, eu disse que da próxima vez que ela fizesse isso eu iria esfregar a cara dela na areia, ela simplesmente riu. Antes de sair, ela ainda voltou a puxar assunto.
- E amanhã, algum compromisso?
- Não que eu me lembre... - Fiquei na dúvida se ela queria que eu chamasse ela ou se ela queria me chamar para algo, ou simplesmente queria saber se poderia vir estudar novamente.
- Você também vai na academia nos finais de semana?
- Vou sim, mas costumo ir um pouco mais tarde, em torno das 8 horas.
- É que eu estava pensando em fazer uma caminhada, amanhã trabalho das 14 até as 22h, queria dar um volta no parque pela manhã.
- Mas daqui até o parque já é uma boa caminhada, estava pensando em ir caminhar no parque, ou caminhar até o parque?
- É, verdade, queria caminhar no parque, você anima?
- Opa, animo sim, dai nós vamos de carro até lá, que horas?
- Não, não, não vamos de carro não, você é muito dependente dele, vamos do meu jeito, vamos andando até a estação, e depois pegamos um metrô até o parque, nos finais de semana é tranquilo, não fica muito lotado não.
- Eu ein, você fala como se eu nunca tivesse andando de metrô! Já andei muito de transporte público flor...
Ela corou, eu nem percebi que tinha chamado ela de flor, mas é um costume meu, eu costumo chamar muitas amigas assim, a verdade é que quando alguns amigos meus ligam, eu também chamo eles de flor, só de piada mesmo.
- Não parece, você sempre fica nessa sua roupinha bem passada, andando de carro de playboy.
Estavamos flertando, essa era a verdade, e para não repetir pela milésima vez, nem vou dizer que amo flertar! Ela estava com os braços cruzados na frente do peito segurando os livros e cadernos, com a perna direita a frente com o joelho um pouco dobrado e só a ponta do pé no chão, eu acredito que as mulheres fazem essas posições só para provocar os homens. De acordo com o que falava, ela balançava um pouco a perna que estava a frente ou os ombros, parecia uma garota do ensino médio, mas definitivamente era uma mulher.
Combinamos de nos encontrarmos as 8h na academia, e no lugar de malhar iríamos para a caminhada. Antes de sair ela se aproximou e me deu um beijo no rosto de boa noite, seu eu pudesse eu gostaria de estar de frente para essa cena, para ver minha cara quando ganhei o beijo, e a expressão dela, que eu apostava que era de menina levada, que sabia que tudo aquilo era mais que uma simples aula de exatas.
Depois que a Júlia foi embora eu chequei meus e-mails e fui dormir, sonhei que jogava pólo aquático, estranho, sou um péssimo nadador, esse seria o último esporte que eu praticaria, mas tudo bem, sonhos nem sempre são para ser compreendidos.