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quinta-feira, 10 de março de 2011

Chapter VI - Parenting

    Mais uma manhã, como tantas outras, acorda, levanta, toma café e vai para academia, odeio rotinas, se são chatas de se fazer, imagina descrever, ainda mais todos os dias...
    Saí do elevador e dei de cara com a Júlia indo para a academia, ela me cumprimentou e já foi agradecendo mais uma vez pela aula de ontem:
    - Bom dia Bruno, obrigado mais uma vez por ontem.
    - Bom dia moça, e você sabe que não precisa agradecer, até achei que você foi lá em casa ontem só para eu parar de ficar te oferecendo ajuda para estudar!
    - Ah, que nada, fui porque preciso mesmo. E é, nem sei como dizer, mas me desculpe também por ontem.
- Desculpar? O que que aconteceu que eu não lembro?
- Na hora de ir embora, eu não sabia se só dizia tchau, se te cumprimentava ou te dava um abraço, e no final das contas, você foi super carinhoso e me deu um beijo na testa.
- Engraçado, porque eu meio que fiquei constrangido com isso mesmo, não sabia muito o que fazer, mas achei que você tinha ficado constrangida com minha atitude.
- Que nada, eu pensei o mesmo, também achei que você tivesse ficado sem graça por conta da minha atitude, de parar no meio da caminho e não saber o que fazer.
- Bom, de qualquer forma, foi apenas uma mal entendido, isso que importa, não é?
- É, se você não está achando que eu sou esquisita já fico mais aliviada.
- Na verdade eu acho, mas por outros motivos que não convém falar agora.
Ela riu, e continuou a série de exercícios dela, eu também fui para a minha, na hora de ir embora ela me disse que ia tentar estudar sozinha hoje, e também iria ver outras matérias. Mas foi então que fiquei surpreso, antes de sair ela chegou do meu lado e me deu um beijo no rosto, de despedida. Eu observei ela sair da academia, e fiquei ali, parado, pensando no que tinha sido aquilo. Quando ela estava na porta ainda virou, deu um sorriso e um tchauzinho com a mão.
Mulheres, mesmo quando sem querer, conseguem quebrar um homem facilmente, pequenos gestos, mas de grande eficiência. A minha dúvida agora era apenas uma, se ela estava se exibindo para mim de propósito ou era minha mente que era maliciosa. E pior de tudo, eu não sei o que eu preferiria.
Já era cerca de 10h da manhã quando meu celular tocou no trabalho, uma chamada a cobrar, para minha surpresa escutei a voz do Glauber do outro lado, fiquei realmente feliz.
- Fala rapaz, como é que você está?
- Oi seu Bruno, minha mãe quer falar com você.
E escutei ele falando com a mãe dele ao longe, não dava para escutar o que falou, e dava para ouvir o barulho dos carros passando na rua, certamente estavam falando de um orelhão.
- Oi, mãe do Glauber?
- É, oi, bom dia.
- Oi, bom dia, qual o nome da senhora?
- É, eu me chamo Deucicléia, mas todo mundo me chama de Léia, o senhor pode me chamar de Léia também.
- Um prazer falar com a senhora, como já deve saber, eu me chamo Bruno e a senhora pode me tratar por ‘você’, não precisa me chamar de senhor.
- Ah, sim, me desculpa.
- Não tem pelo que se desculpar. Mas me diga, o Glauber me disse que a senhora gostaria de falar comigo.
- É, então, meu filho me disse que o senhor, me desculpa, você queria por ele na escola e dar emprego para ele?
- Isso mesmo, queria dar uma oportunidade para ele no meu escritório, mas pela idade dele, a única forma dele trabalhar legalmente é como aprendiz, e para isso ele precisa estar estudando.
- Olha senhor, eu nem sei o que dizer, porque a gente quer muito que o filho da gente estude e tenha uma vida melhor que a nossa, eu não tenho nem como agradecer se fizer isso pelo Glauber.
- A senhora não tem o que agradecer, tem um ótimo filho, vai ser um prazer para mim ter ele trabalhando comigo.
- Mas preciso alertar você seu Bruno, o pai dele, o Gilmar, é muito bravo, fica bêbado todo dia, ele pode querer arrumar confusão.
- Confusão comigo? Impossível, ele não pode fazer nada comigo, o único perigo é ele fazer algo com a senhora e o com seu filho, mas eu estou bem.
- Mas mesmo assim, o senhor toma cuidado se ele te procurar. Mas também gostaria de saber sobre a escola, o senhor também vai ajudar nisso?
- Como assim?
- Bom, ele está atrasado, a gente tentou matricular ele mas coma já tinha começado o ano não quiseram aceitar ele.
- Hum... deixe-me ver o que eu posso fazer e depois entro em contato, mas me faça um favor, mande o Glauber aparecer aqui no escritório de tarde, quero conversar com ele.
- Pode deixar, ele vai aparecer aí, muito obrigado, muito obrigado mesmo seu Bruno.
- Eu ainda não fiz nada, a senhora não tem pelo que agradecer ainda.
As últimas palavras da mãe do Glauber vieram pesadas como se ele estivesse se segurando para não chorar, é incrível como atitudes pequenas podem fazer tanto pela vida de uma pessoa, espero que realmente tudo dê certo com esse garoto e o pai dele não me traga problemas.
Logo quando voltei do almoço o pequeno Glauber me esperava em meu escritório, estava com uma calça jeans surrada, um all star velho e uma camisa de vereador, mas para quem já tinha visto como ele andava na rua, podia-se dizer que ele estava ali em seu melhor traje.
- E ai rapaz, pronto para trabalhar?
- Opa, tô sim.
- Vem comigo que eu vou te apresentar a equipe.
E assim apresentei o Glauber para todos eles, ele estava meio tímido, e verdade que minha equipe nerd não era do tipo que se enturma rápido, ainda olhavam o menino de forma indiferente, mas uma coisa que gosto no meu ambiente de trabalho é que somos quase uma família, um cuida do outro.
- Mas então rapaz, tenho uma proposta para você, que tal a gente passar na escola que você estudava antes e dar uma conversada com a diretora?
- Por mim tudo bem chefim!
E ele falou com uma risada maliciosa, porque tinha escutado o pessoal me chamando assim, bom garoto esse Glauber!
Chegando na escola me informei na secretaria e descobri que realmente já não era possível fazer matrícula, mas insisti para conversar com a diretora da escola. Quando preciso de um favor de alguém costumo abrir o jogo logo de cara, e naquela conversa eu tinha uma vantagem, possuía moeda de barganha, era uma escola pública e eu sei que sempre precisam de ajuda para fazer diversas coisas, eu estudei em escola pública praticamente minha vida inteira, desde o ensino básico até a faculdade, sei bem qual a realidade que eles enfrentam.
A D. Rosa era dura na queda, então fui logo oferecendo vantagens. Trabalho com informática, ofereci suporte técnico total para a escola, ainda que não seja meu foco de atuação, eu mesmo poderia fazer o serviço e pretendia ensinar o Glauber para me ajudar no trabalho, mas ela queria mais, também queria uma doação de um computador, eu não queria oferecer tanto, mas pelo padrão dos computadores de lá, não iria gastar muito não, então fechei assim, mas me comprometi de acompanhar os estudos do Glauber até o meio do ano, porque em duas semanas teriam as primeiras provas e dificilmente ele estaria preparado para tirar a nota necessária. Mas ele era um bom menino, parecia empolgado com tudo aquilo, tinha certeza que ele não me decepcionaria.
Passamos na casa dele, o menino não morava, se escondia, situação bem precária, mas pelo menos tinha um teto, não morava na rua, pegamos os documentos necessários e voltamos para escola, na volta para casa passei com ele no shopping, comprei um par de tênis, duas calças, duas bermudas e quatro camisetas, ele ficou radiante, disse que nunca tinha tido tanta roupa assim, no final ele ainda disse, que na verdade não se lembrava de ter tido alguma roupa nova algum dia, toda sua roupa era ou doada por alguém ou comprada usada em algum bazar.
Eu estava feliz, acreditava estar dando uma chance aquele garoto, só esperava que ele se dedicasse a aproveitasse a oportunidade, porque essa era do tipo que não aparecia todos os dias.
Finalzinho da tarde eu passei no serviço só para deixar tudo arrumado para segunda, acabei que quase não trabalhei hoje, e sexta sempre é mais corrido, mas tudo bem, hoje o dia foi extremamente produtivo. Já aproveitei e liguei para o contador dar entrada na papelada do Glauber, nessa primeira semana ele já vai para a escola, e na próxima já pode começar a trabalhar.
Chegando em casa, quando estava entrando na garagem, meu celular recebeu um sms, depois de estacionar, vi que era da Júlia, perguntou se não ia fazer nada de noite, porque tinha novas dúvidas, mas como era sexta, talvez eu fosse sair.
Chegando no meu apartamento já liguei de volta, disse que iria comer e tomar um banho, que ela poderia subir em meia hora.
Quando ela chegou, mais uma vez fiquei sem reação com a simplicidade que ela se vestia e mesmo assim conseguia ficar linda, outra roupa, mas mesmo estilo, calça jeans, blusa com decote e cabelo com um coque.
Tudo ia bem, dessa vez ela já tinha uma lista de exercícios que não tinha conseguido resolver e eu fui explicando um a um. Era quase dez da noite quando meu celular tocou, Rafaela na linha, atendi com aquele sorriso natural no rosto, nem me afastei da sala, só levantei e me aproximei da janela, mas ainda perto o suficiente para que a Júlia conseguisse ouvir toda a minha fala, não estava tentando me exibir nem nada, mas temia que ela achasse que estava incomodando caso eu me afastasse muito.
A Rafaela estava me chamando para sair, um bar que ia ter um cover do Pearl Jeam, ela já conhecia a banda e disse que era muito boa, no entanto, foi nesse momento que eu acho que dei mancada, porque eu estava animado com a conversa, e sem maldade alguma, eu disse:
- Hoje não dá, estou ocupado essa noite, mas vou lembrar do convite para qualquer outro dia.
Nesse momento, a Júlia, que pelo meu tom já devia ter percebido que eu conversava com alguma mulher e estava em clima de flerte, me olhou de canto do olho como quem acha que está incomodando e atrapalhando, pior de tudo que eu percebi que ela percebeu, e não consegui disfarçar, o que gerou um clima estranho. Quando desliguei o celular tive até medo de fazer contato visual, ela estava com uma cara estranha, já juntava as coisas dela e disse que ia embora.
- Mas por que? Ainda tem vários exercícios para rever, não tem?
- Eu acho que dou conta sozinha, obrigado.
- Ei, ei, o que que aconteceu?
- Nada Bruno, não aconteceu nada, eu só não gosto de incomodar, e pelo visto já incomodei de mais por hoje!
- Quem disse isso? Está falando da minha conversa no celular?
- E do que mais poderia estar falando? Eu escutei você falando que hoje não dava para sair porque estava ocupado essa noite, odeio quando atrapalho os planos dos outros!
- Ei, você não está me atrapalhando, eu não estava afim de sair hoje, ainda que você não estivesse aqui eu teria dado a mesma desculpa, não tem nada a ver com você!
- Ai Bruno, eu vi o tom que você estava falando no telefone, com risinhos, é obvio que você queria sair com a tal Rafaela!
Nessa eu fiquei assustado, ela falou como se estivesse com ciúmes, eu até que gostei do tom que ela falou, mas se demonstrasse eu acho que ela me jogava pela janela. Eu dei uns dois passos a frente com uma expressão séria, fiquei a pouco menos de um metro de distância dela, mas ela estava sentada e eu de pé, e falei em tom firme:
- Júlia, eu não tenho nada com você, nada além de amizade, isso quer dizer que eu não preciso te dar satisfação dos meus afazeres, muito menos mudar eles por você, não tenha essa imagem que eu sou educado, pois eu não sou, me esforço para agradar porque sei que é melhor assim, se quisesse ir no bar com a Rafaela, teria pedido para você ir embora, eu jamais mudaria meus planos por alguém que mal conheço.
- Mas...
- Eu tive um dia corrido hoje, ir para um bar significava ficar em um ambiente cheio de barulho e voltar para casa tarde da noite, aqui em casa eu tenho conforto, silêncio e não preciso dirigir para ir embora, basta me jogar na cama, então não me venha tirando conclusões a meu respeito.
- Desculpa, eu nem sei de onde isso veio.
- Não tem o porque pedir desculpa, você não fez nada de mais, achou que estava incomodando e isso te incomodou. Mas então, qual sua próxima dúvida?
E abri um sorriso, que foi correspondido com o mesmo gesto, ela corou, ficando com vergonha, acredito eu por ter gerado toda a discussão e depois ver que eu realmente não estava chateado nem nada.
Voltamos ao estudo, ela até que me surpreendia, achava que ela era uma daquelas meninas tontas, que durante a escola ficava penteando o cabelo e falando sobre galãs do cinema no lugar de prestar atenção na aula, mas ela era esperta, aprendia muito rápido, e tinha uma característica que me incomodava, mas era exatamente como eu fazia, e só daí percebi porque as pessoas não gostavam quando eu fazia isso. As vezes, no meio de uma explicação minha, ela entendia a lógica do problema e começava a me cortar tentando me explicar o resto do problema, para mostrar que já tinha entendido, era uma coisa que eu sempre fazia e as pessoas sempre ficavam bravas, porque eu pedia uma explicação e no meio começava a interromper a pessoa e não deixava mais ela concluir a explicação. Quando percebi que ela fazia isso comecei a rir sozinho, mas apenas um sorriso no rosto, ela percebeu e perguntou o motivo, quando expliquei ela ficou com o mesmo sorriso sem graça.
Era quase meia noite quando ela foi embora, me pediu desculpas mais uma vez pelo nossa pequena discussão, eu disse que da próxima vez que ela fizesse isso eu iria esfregar a cara dela na areia, ela simplesmente riu. Antes de sair, ela ainda voltou a puxar assunto.
- E amanhã, algum compromisso?
- Não que eu me lembre... - Fiquei na dúvida se ela queria que eu chamasse ela ou se ela queria me chamar para algo, ou simplesmente queria saber se poderia vir estudar novamente.
- Você também vai na academia nos finais de semana?
- Vou sim, mas costumo ir um pouco mais tarde, em torno das 8 horas.
- É que eu estava pensando em fazer uma caminhada, amanhã trabalho das 14 até as 22h, queria dar um volta no parque pela manhã.
- Mas daqui até o parque já é uma boa caminhada, estava pensando em ir caminhar no parque, ou caminhar até o parque?
- É, verdade, queria caminhar no parque, você anima?
- Opa, animo sim, dai nós vamos de carro até lá, que horas?
- Não, não, não vamos de carro não, você é muito dependente dele, vamos do meu jeito, vamos andando até a estação, e depois pegamos um metrô até o parque, nos finais de semana é tranquilo, não fica muito lotado não.
- Eu ein, você fala como se eu nunca tivesse andando de metrô! Já andei muito de transporte público flor...
Ela corou, eu nem percebi que tinha chamado ela de flor, mas é um costume meu, eu costumo chamar muitas amigas assim, a verdade é que quando alguns amigos meus ligam, eu também chamo eles de flor, só de piada mesmo.
- Não parece, você sempre fica nessa sua roupinha bem passada, andando de carro de playboy.
Estavamos flertando, essa era a verdade, e para não repetir pela milésima vez, nem vou dizer que amo flertar! Ela estava com os braços cruzados na frente do peito segurando os livros e cadernos, com a perna direita a frente com o joelho um pouco dobrado e só a ponta do pé no chão, eu acredito que as mulheres fazem essas posições só para provocar os homens. De acordo com o que falava, ela balançava um pouco a perna que estava a frente ou os ombros, parecia uma garota do ensino médio, mas definitivamente era uma mulher.
Combinamos de nos encontrarmos as 8h na academia, e no lugar de malhar iríamos para a caminhada. Antes de sair ela se aproximou e me deu um beijo no rosto de boa noite, seu eu pudesse eu gostaria de estar de frente para essa cena, para ver minha cara quando ganhei o beijo, e a expressão dela, que eu apostava que era de menina levada, que sabia que tudo aquilo era mais que uma simples aula de exatas.
Depois que a Júlia foi embora eu chequei meus e-mails e fui dormir, sonhei que jogava pólo aquático, estranho, sou um péssimo nadador, esse seria o último esporte que eu praticaria, mas tudo bem, sonhos nem sempre são para ser compreendidos.

7 comentários:

sue disse...

Polo aquatico,quem sonha isso?ê vida!
tá,nao to no direito de te zuar muito..então sejamos diretos:
você come letras e cria infinitivos que não deveriam existir. Depois, se tiver saco, edite os seus textos :)

sue disse...

Rotinas são entediantes e o tédio me leva ao sufoco. Entretanto eu acho brilhante como mesmo seguindo uma constante pequenos detalhes podem modificar um todo, já pensou nisso? Um gesto, uma frase, um sorriso, um piscar de olhos... Chega a me parecer fascinante.

Bruno disse...

As vezes eu crio infinitivos por devolver as letrinhas que eu como em outras palavras, me diga os erros que encontrar para que eu possa corrigir...

sue disse...

Você acha que eu ser sua quase sua prima é sinal de ser sua empregada?

sue disse...

Bom coisinha,
seguinte,li por alto.. pq sabe ne,tenho pressa :B
Algumas coisas voce ja modificou,fato! Mas nao sei o quanto. e bom
"A D. Rosa era duro na queda,"

A --- duro ,isso ta certo?!

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

"Vagueia
Devaneia
Já apanhou à beça
Mas para quem sabe olhar
A flor também é
Ferida aberta
E não se vê chora"

http://letras.terra.com.br/chico-buarque/126975/

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

*chorar

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