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quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Chapter IV - Happy Hour

Optamos por ir à Locomotiva Urbana, um barzinho muito “bacana” no meu conceito, fica perto do serviço, possui dois ambientes, mas apenas uma divisória de vidro temperado entre eles, para que um lado possa ver como o outro está. De um lado há mesinhas para as pessoas sentarem e duas mesas de bilhar profissionais, daquelas que se aluga por hora e não por ficha, normalmente ficam casais e grupos de amigos desse lado, ou apenas os que querem jogar um pouquinho de sinuca, nesse lado tem até garçom. Do outro lado tem uma banda que toca ao vivo, cada dia da semana vai uma banda diferente, eu não conheço nenhuma delas, mas nunca reclamei de uma, geralmente são muito boas, e também tem o bar em um canto e a pista no meio, todo mundo fica em pé, apenas algumas mesinhas altas nos cantos para o pessoal colocar a bebida, mas não chega a ser uma balada, apesar de sempre ter gente dançando. No geral eu gosto deste bar, você vê uma galera mais jovem que freqüenta, provavelmente universitários, mas dá para perceber que tem muita gente que vem direto do trabalho, para descontrair em um happy hour depois do serviço.
Sempre que vamos a esse bar costumamos ficar na mesma mesa, já sou amigo do dono e já havia ligado reservando nosso canto, a ultima mesa perto da divisória, ao fundo, de forma que temos uma vista privilegiada dos dois ambientes, um ambiente com menos som para que possamos conversar e ao mesmo tempo temos uma visão de como está a pista e o bar, os garotos sempre ficam de olho na mulherada e uma possível azaração.
Eu estou pagando tudo hoje, sempre que vamos comemorar algo eu faço isso, com exceção do estagiário que eu sempre banco. Ele recebe um salário bem menor que os outros, e apesar de um evento como esse não fazer muita diferença no final do mês, certamente faz bem menos diferença para mim do que para ele, não custa nada, meu ex-chefe fazia isso por mim, eu só continuo passando para frente a mesma gentileza. Mas já ouvi dizer que quando eles saem entre eles o estagiário nunca paga nada também, no entanto não é só um quem paga, é dividido entre todos, o que é algo bem interessante, pois nunca falei nada com eles a respeito disso, mas meu colegas de trabalho também pagavam minha conta quando eu era estagiário e o chefe não estava presente. Gentileza gera gentileza.
Logo de entrada os garotos queriam tomar tequila, eu falei que não era boa idéia porque todo mundo ia voltar dirigindo para casa e o Lucas – o estagiário – ainda tinha outra festa para ir, mas fui vaiando e desencorajado na mesa, que é uma outra atitude que acho legal, quando saímos eu deixo de ser chefe e viro colega de serviço, eles tem toda liberdade comigo, fazem brincadeiras igual fazem com todo mundo, mas no dia seguinte todos sabem separar e voltar a me respeitar como chefe, mas como já havia dito antes, tenho uma ótima equipe.
Doses de tequila não seriam o suficiente, então mandei trazer a garrafa inteira, afinal de contas teriam oito pessoas tomando. Logo veio a garrafa com muito limão e um saleiro, o primeiro foi o estagiário, lógico, e fizeram ele tomar três seguidas, logo ali nos primeiros dez minutos o menino já estava embriagado, eu achei uma baita sacanagem, mas o pessoal queria era se divertir, e afinal de contas o Lucas não se opôs em momento algum, e não parecia ser aquele tipo de coisa que você fica quieto porque quer se enturmar, ele parecia realmente empolgado desde o começo. Todos foram tomando suas tequilas com limão e muito sal, depois de alguns protestos eu peguei um limão, mordi fazendo careta e matei todo o refrigerante que restava no meu copo, e recebi uma salva de palmas por isso, como se tivesse feito algo magnífico, foi divertido, gosto muito desses momentos de confraternização.
Depois de meia hora a garrafa de tequila já não existia mais, e o pessoal partiu para a cerveja e bate-papo, eu continuava no meu refrigerante, que agora já era aceito por todos normalmente, mas no começo todos ficavam pressionando para que eu pelo menos experimentasse, diziam que eu não podia dizer que não gostava de algo que nunca tinha provado. Escutei isso minha vida inteira, principalmente nos churrascos da faculdade, todo mundo ficava implicando comigo por não beber nada com álcool, ainda diziam que refrigerante faz mais mal a saúde do que álcool, mas isso era um argumento fraco. O mais interessante nesses churrascos, é que tinha uma amiga nossa que era vegetariana, e sempre levava seus pães de alho e berinjelas para assar na churrasqueira e todos a recebiam na maior naturalidade, o que eu achava um absurdo, não o fato de a receberem bem, mas sim o fato deles implicarem comigo, churrasco é sinônimo de carne para mim, como eles pegavam no meu pé que não bebia cerveja mas deixavam passar quem não comia carne? Outro fato interessante também era que sempre tentavam “batizar” minha bebida, eu não podia desgrudar do meu copo momento algum, mas com o tempo eu identifiquei bons amigos que me ajudavam nessa tarefa, seja vigiando ou experimentando minha bebida. Foi um período difícil, mas nunca tive dúvida quanto ao foto de beber, não tenho nada contra, mas é algo que nunca quis para mim.
Como sempre acontecem nas rodinhas de bar, histórias engraçadas sempre são contadas, novas vão surgindo no momento e as antigas são relembradas. Estávamos todos tendo um ótimo tempo, pelo menos todos rindo e aparentemente felizes, quando o Tiago disse que tínhamos que arrumar uma mulher para o estagiário, afinal de contas era o aniversário dele. Quando chega nesse assunto sempre é engraçado, afinal de contas todos mechemos com tecnologia, com computadores, mais precisamente softwares, resumindo, somos todos nerds, programação é estilo de vida, não profissão, e isso não costuma ser uma cantada muito boa. Acho que todas as garotas ali do bar já tinham escutado pelo menos uma vez a máxima dos programadores:
    - Mas então, no que você trabalha?
- Ah, eu faço programa – E um sorriso malicioso aparecia no rosto do nerd.
- Programa?
- De computador, programa de computador...
Isso não colava nem quando era inédito, imagine agora que era algo ultrapassado? Mas mesmo assim todos estavam dizendo para o estagiário “chegar” em uma morena que estava no canto do bar, fato que ela realmente estava olhando para nosso lado, mas não tinha como saber se realmente estava olhando para nossa mesa e mais precisamente quem havia chamado sua atenção. Eu só sabia de uma coisa, com aquela cantada ele não conseguiria nada com ela.
Eu vi o Lucas levantando todo inseguro, sabe quando o cara levanta da mesa mas não fica de pé? Ele levanta e permanece com os joelhos semi-dobrados, de forma que se você batesse uma foto jamais saberia se ele está levantando ou sentando. Isso se chama indecisão, ele não sabia se levantava ou ficava sentado, era óbvio que gostaria de “agarrar” aquela garota, mas ele duvidava se conseguiria e tinha medo da derrota. Ele dizia que iria lá e conseguiria xavecar ela, mas o corpo dele dizia outra coisa, era engraçado observar isso, engraçado por lembrar exatamente como eu era a umas duas copas atrás.
Eu lembro uma vez que fui em um bar com o pessoal da minha república na época da faculdade, eu devia ser um anos mais novo que o Lucas, mas era tão inseguro quanto... Eu era o mais engraçado da turma – para não dizer mais idiota – e o que tinha mais facilidade em tirar uma risada dos outros, mas não era tão descolado quanto eles. Eu tinha esse bloqueio de conversar com garotas, era engraçado, eu conseguia chegar em qualquer uma manter uma boa conversa, ser divertido, um tanto agradável, pelo menos o suficiente para não levar um fora, mas fazia isso apenas para conversar, ser divertido e ter bons momentos. Mas quando o assunto era xaveco, daí a coisa mudava, eu perdia o controle da respiração e comia sílabas, falava mais bobeira do que o comum e não conseguia manter a conversa por muito tempo. Dessa vez eu comecei a conversar com uma garota, já não lembro o nome dela, mas me recordo perfeitamente da fisionomia, e eu estava indo muito bem, tirando sorrisos dela, tudo ia bem... Até que de repente eu percebi a expressão corporal dela... Eu sempre fui um cara muito teórico, lia livros sobre expressões corporais, expressões faciais, e diversos outros métodos de leitura de um ser humano, e isso me atrapalhou naquele dia. Eu lembro que ela disse que estava de motorista da rodada naquele dia, e eu disse que eu também estava, que podíamos ser uma ótima dupla. Aquilo saiu naturalmente, não foi uma cantada, foi só uma associação lógica que meu cérebro fez e minha boca falou antes que eu pudesse refrear o estímulo verbal. Só que ela corou, e reprimiu um sorriso, e abaixou a cabeça... e ainda com a cabeça meio abaixada ergueu os olhos e deixou de reprimir o sorriso, então eu percebi o que ela queria, e travei! A partir dali não saia mais nada com nada, parecia que eu tinha sido abduzido e substituído por um ser atrapalhado, com a garganta seca como se não tomasse um líquido a uma semana, e que não conseguiria divertir nem uma criança de três anos. E ela percebeu e me perguntou o que tinha acontecido, eu não tinha como explicar, achei que era melhor dizer que não era nada do que dizer:
- Ah, me desculpe, é que eu sou um nerd e acabei de perceber que nós estávamos flertando, e como eu não sei flertar eu simplesmente travei, deu tela azul em mim...
- Ah, tela azul, bom você não sabe o que é tela azul né?
- Tela azul é quando um software realiza uma operação ilegal e o hardware do computador não consegue trabalhar sob aquelas condições, então ele trava e mostra uma tela azul com os códigos dos erros para garantir que o hardware não seja danificado.
- Ah, acho que estou falando de mais de computadores né? Você não deve estar interessada nisso, eu acho que estou sendo chato...
- O que? Você já vai embora? Sua amiga acabou de te ligar dizendo que o pai dela sofreu um derrame e você precisa ir consolar ela? Posso pegar seu número pelo menos?
- Ei, espera ai, celular não tem oito números? Você me passou só quatro...
E assim seria mais um fracasso para minha coleção, então resolvi ficar quieto.
Mas para isso que servem os amigos, e quando eu estava sem graça e sem saber o que falar e para onde olhar, sabe aquela hora que você coloca as duas mãos nos bolsos e fica balançando os ombros? Imagine um pouquinho mais patético e você vai ter uma idéia de como estava. Foi quando o Rafael chegou do nosso lado e colocou a mão no ombros de nós dois e disse:
- Rapaz, eu já te falei que depois que chega nesse ponto você tem que chegar perto e beijar a moça! Será que eu tenho que explicar tudo para você?
Ela riu, e me olhou com olhos de quem curtiu a idéia, então não me restava muito, eu dei um passo a frente e dei um beijo nela. Mas essa história foi uma que deu certo, isso porque o Rafael se intrometeu, senão teria sido mais uma vez em que eu fiz aquela jogada espetacular e na cara do gol chutei para fora, eu era quase um especialista em fazer isso.
Mas fato era que o estagiário já estava de pé e caminhava na direção da moça. Ele não andava com um andar muito confiante, faltava postura e mais atitude no caminhar dele, isso ajuda muito na hora. Na mesa todos estávamos apreensivos, até eu estava torcendo pelo garoto, afinal de contas era aniversário dele. Desastre, é como eu definiria a situação em uma palavra, se tivesse que usar duas eu diria “desastre total”.
Quando ele chegou no bar, ele foi esticar a mão para tocá-la no ombro, mas esse movimento coincidiu exatamente com a virada da garota, e ele estava tão nervoso que não percebeu e não conseguiu impedir o movimento, resultado: Ele meteu o dedo no olho da menina, e para ajudar, com o susto ela derrubou o copo dela no chão molhando ele.
- E olha que nem fui eu... – Disse o Murphy, e após uma tentativa frustrada de serem solidários ao garoto, todos gargalharam.
Eu não conseguia escutar o que o Lucas falava, mas ele não parava de falar. Mas o que parecia um desastre não estava tão ruim assim, de longe o que me parecia era que ela não tinha percebido que ele ia chamar ela e sim estava erguendo a mão para chamar a atenção do barman, ou seja, ela pensava que ela tinha sido a atrapalhada por ter virado de cabeça baixa e estava preocupado por ter molhado a camisa do nosso amigo. Ela parecia tão nervosa quanto ele, o que tornava a cena ainda mais engraçada.
Depois de mais algumas palavras trocadas ele tirou o celular do bolso e deu na mão dela, creio que ela estava digitando o número dela, o que era o máximo, considerando todas as circunstâncias.
Quando o estagiário voltou para a mesa ele estava com um sorriso de orelha a orelha, e todos queriam saber o que tinha acontecido.
- Desembucha garoto, me fale como foi, você pegou o número dela? – Perguntou um dos caras.
- Ah, sabe como é né, eu sou o cara, as mulheres não resistem ao meu charme...
- Aham, com certeza, não é a toa que elas se atiram em cima de você. Ah, não, ela não se atirou em cima de você, ela atirou a bebida em você!
Todos gargalharam e o Lucas deu um sorriso sem graça, mas não ficou chateado, estava curtindo a brincadeira.
- Mas então, ela nem percebeu que foi eu quem fez a trapalhada, me pediu desculpa e eu me oferecia para pagar outra bebida, ela aceitou, só que disse q    ue tinha uma condição, queria o telefone dela!
- Boa garoto! – Disse o Jorge.
- Poxa, eu acho que até levo jeito para isso, normalmente só chego em menina com cara de tonta que freqüenta biblioteca, isso quando não estou xavecando a própria bibliotecária!
E a conversa continuou, todos faziam piadas a respeito do ocorrido e todos se divertiam, eu gosto disso, sempre observo as pessoas, não só os que estão na minha mesa, mas todos que estão no ambiente, isso é sensacional.
Ali na Locomotiva eu podia identificar alguns tipos. No balcão tinha um cara que estava de costas para o balcão, com os dois cotovelos apoiados no mesmo, ele é o tipo de cara que fica ali esperando as meninas irem pegar bebidas, é um ótimo local, porque elas sempre passam por ali, mas caras que fazem isso normalmente não conseguem nada, acabam pegando uma bêbada no final da festa, a vantagem é que o cara não se cansa, muitos ficam se movimentando a noite inteira e no final das contas acabam do mesmo jeito.
Daí no meio você vê o tipo amigo, aqueles que não se importam de estarem li em prol do time, eles não curtem muito o ambiente, mas todos amigos estão por ali então ele acaba indo junto. Toda hora olham no relógio, e por vez ou outra ameaçam uns passinhos só para os amigos não desconfiarem que está entediado.
Hoje também tinha um descolado, meu tipo preferido, é o cara, ou a mina, que está inventando seu próprio estilo de dança, em geral estão queimando a cara, mas se sentem super descolados porque estão chamando a atenção. A questão é que não é esse tipo de atenção que o povo descolado costuma chamar.
Poderia falar a noite toda de todos padrões que encontro nos bares, tem os populares, os que riem alto, os atiradores de elite, as exibidas, as dissimuladas e tantos outros.
Mas acontece que quando começo a observar o ambiente costumo entrar em um estado quase vegetativo, e hoje não foi diferente. Quando voltei ao normal foi como se tivesse acordado, a imagem foi voltando aos poucos até que reparei que estava olhando para um moça na mesa do outro lado do bar, quando apertei os olhos para ver melhor percebi que ela esta me encarando também e abriu um sorriso. Coisa fantástica essa, é natural, não tem como evitar, alguém te abre um sorriso espontâneo e você também abre um. Quando reparei já havia sorrido de volta e instintivamente ergui um pouco o copo que estava na minha mão direita em direção a moça, como quem oferece um brinde, ela respondeu com o mesmo gesto e sorriu mais uma vez.
Pior que os caras da mesa perceberam, e todos começaram a me aloprar para que fosse conversar com ela. Já sabia a próxima frase deles:
- Poxa, até o estagiário teve coragem, você como chefe tem que dar exemplo!
Ela estava com apenas mais uma amiga na mesa, uma mesinha no canto com apenas duas cadeiras, o pessoal ao lado parecia ter “roubado” as outras duas cadeiras, pois havia seis na mesa deles. A amiga dela levantou e foi em direção ao banheiro, minha chance, eu pensei. Levantei e fui em direção a garota, e meus discretos amigos soltaram um “Aeeeeeee”, e quase todos olharam para mim. Não gostei, mas ela viu e abaixou a cabeça e riu.
- Oi.
- Oi. – Sorriso no rosto dela.
Com um cara de tentado abri um sorriso e disse:
- Oi.
Ela dessa vez transformou o sorriso em uma risada.
- Me desculpe, é que se cada vez que eu disser um “oi” eu ganhar um sorriso desse eu vou dizer mais algumas vezes...
- Obrigada. – Outro sorriso.
- A questão é o seguinte, eu estava viajando ali na minha mesa.
- É, eu percebi, você até balbuciou algumas palavras...
Agora foi minha vez de dar uma leve risada.
- Quer dizer então que você estava me observando?
- Não só você! Estava dando um “look” geral no ambiente, sempre faço isso, você foi só digamos... o achado mais interssante...
- Defina interessante.
- O que estava em uma mesa cheio de gente animada mas estava viajando, não do tipo entendiado, mas do tipo pensador. O que é interessante, pois ninguém vem ao bar para pensar, e sim para parar de pensar.
- Se eu disse que eu fico observando as pessoas, fazendo esse mesmo tipo de observações que você faz, você acharia que eu estou te cantando?
- Talvez...
- Pois bem, eu faço isso, e estava fazendo no exato momento que você me flagrou.
- Isso quer dizer que eu também fico com aquela cara de besta quando estou observando os outros?
- Muito provavelmente! Se quiser eu posso voltar ao meu lugar e reparar, depois eu te ligo e digo como você fica, ou posso até bater uma foto e mandar para seu e-mail, sua escolha.
- Sutil e inteligente, gosto de caras assim, mas não estou aqui hoje para isso, acabei de sair de um relacionamento e não estou afim de ninguém me ligando dizendo que quer sair só para conversar...
- Direta, gosto de garotas assim, mas eu também não estou aqui para isso, meus amigos ficariam me aloprando se eu não viesse, pois eles viram nossa leve flertada. Mas que tal, eu te dou mais um sorriso, você me devolve outro, eu te faço companhia até sua amiga voltar e todo mundo sai bem.
- Já sei, não quer aparecer na frente dos amigos e dizer que não conseguiu nada, então vai enrolar mais um pouco, e certamente quando virar as costas vai tirar o celular do bolso e fingir que está digitando algo, como se estivesse anotando o meu número.
- Não confunda minhas boas intenções com segundas intenções, eu não sou o único cara te olhando aqui, o cara da mesa ali perto da mesa de sinuca está te olhando a um bom tempo, já havia reparado nisso, e quando eu levante para vir para cá o amigo dele deu um tapa no ombro dele como quem diz: “- Ai Mané, demorou...”
- Então você está tentando me ajudar?
- Estou tentando deixar os dois na melhor situação possível, acredite em mim, eu não faço isso, eu não tiro vantagem, eu não aproveito oportunidades, não estou interessado em nada além do seu sorriso nessa noite, mas já que estou aqui posso evitar que outros babacas fiquem te atazanando. A não ser, claro, que você tenha falado isso só para se ver livre de mim.
- Eu falei a verdade, você até é um cara bacana, que sabe se tivesse te conhecido em outro dia, mas ainda não acredito em você.
- Bruno, certo?
Voz de mulher, me chamando pelas costas, não tinha a mínima idéia de quem era, mas esse alguém sabia que EU era.
- Lembra de mim?
Adoro essa frase, costuma colocar muita gente em saia justa, mas eu me lembrava dela, Jaqueline, conheci nesse bar mesmo, em um outro happy hour cerca de um mês atrás, meus amigos queriam que eu chegasse em alguém, falam que eu estou sempre sozinho e preciso me divertir mais, falaram também que formatar computadores não era o tipo de diversão que eles queriam dizer.
Engraçado foi que com a Jaqueline eu já cheguei abrindo o jogo, fui me desculpando por estar atrapalhando, mas que meus amigos estavam me torrando a paciência para vir falar com ela, que tal se ele trocasse um drink por um sorriso e eu voltava para meu lugar e deixava meus amigos felizes.
Engraçado também, foi que depois de tomar o drink, trocamos algumas palavras e recebi muito mais sorrisos do que esperava, então agradeci por ter comprido a parte dela no trato, virei as costas e voltei para minha mesa. Lembro ainda do Carlinhos dizer:
- Ela te deu fora?
- Sim, fazer o que, acho que não curte do tipo nerd...
- Estranho, quando você virou as costas ela te acompanhou com os olhos até aqui, como se estivesse afim.
- Duvido, deixou bem claro que não queria nada, eu insisti mais do que o comum.
Cheguei em casa ainda pensando nela, será que ela tinha ficado interessada? E tinha achado que o lance da bebida pelo sorriso era apenas uma cantada? Não importava, eu tinha virado as costas e saído, não tinha mais nada a se fazer.
- Como me esquecer. Jaqueline, certo?
- Ah! Você ainda lembra!
- Pior que você vai achar que eu sou algum tipo de psicopata, ou pior, talvez ache que meu lance não é mulher...
- Por quê?
- Estou aqui pelo mesmo motivo, apenas tentando um passe livre dos meus amigos. Mas sua amiga não quer acreditar em mim, acha que é xaveco furado.
- Vai me dizer que ele te disse que os amigos estavam aloprando ele, então queria te pagar um drink em troca de um sorriso?
- Quase isso, só que no lugar do drink era só ficar aqui para que o cara do lado não viesse falar comigo.
- Por incrível quer pareça, verdade! Pelo menos comigo foi. Eu não acreditei quando ele virou as costas e saiu, achei que era jogada dele, que iria voltar, mas não, simplesmente voltou para os amigos e ficou por lá.
- Eu não te disse?
- Mas o que você ganha com isso? – Perguntou a amiga.
- Eu continuo deixando meus amigos despreocupados comigo, e além do mais vou dormir sabendo que não fui mais um babaca que ficou na orelha de uma garota que não estava afim a noite toda.
- Mas que disse que eu não estava afim?
Nessa a Jaqueline me pegou de surpresa, e eu corei. Chamei o garçom pelo nome e pedi mais uma cadeira, afinal de contas eu estava sentado na cadeira da Jaqueline e ela estava de pé.
- Acho que agora eu já mereço pelo menos saber o nome da sua amiga.
- Fernanda.
- Já deve ter escutado quando sua amiga me chamou, mas se não prestou atenção: Bruno, meu nome é Bruno. E me desculpe Jaqueline, se por algum momento eu deixei você entender algum sinal errado, só tentei ser cordial e simpático com você.
- E não é isso que os caras fazem quando conversam com as garotas?
- Eu só tinha, como tenho agora, boas intenções, essa é a diferença, os outros estão cheio de segundas intenções.
- Você é gay?
- Não, claro que não!
- Parece...
Odeio quando chega nessas situações. Mulheres não sabem o que querem, é só isso que eu sei. Ou é de mais, ou é de menos, nunca é a medida certa.
- Sabe o que é interessante agora? É que se isso fosse um jogo, eu já teria perdido essa rodada. Se você se interessou por mim na outra noite, foi pela forma que eu agi, se hoje eu der em cima de você, vou estar agindo diferente, e ainda que você não se importe, estarei sendo falso, sem contar que teria mentido para a Fernanda quando disse que não me aproveito das situações. Mas se eu virar as costas e voltar para minha mesa, vão continuar achando que sou gay.
- Você se explica de mais, os rapazes não fazem isso, não nos bares pelo menos.
- E as garotas não escutam caras que falam tanto como eu, não nos bares pelo menos.
- E o que você vai fazer então?
- Eu vou embora, e na próxima vez que você me ver em um bar, não pense duas vezes, venha você falar comigo, porque se você não vier, eu vou ir falar com você, eu não terei apenas boas intenções.
Com os olhos levemente cerrados dei uma encarada nela, ela retribuiu da mesma forma, ela parecia ser um garota interessante, eu realmente vou falar com ela se a ver de novo. Me levantei, me despedi, e voltei ao meu lugar.
Os caras me fizeram um pequeno interrogatório, eu tinha fama de ser do IBGE, pois sempre voltava cheio de informações, mas mulher que é bom eu nunca conseguia, pelo menos essa era a visão deles.
Já era quase 22h, pedi a conta e depois de pagar fui levar o estagiário embora, não ia deixar ele pegar metrô e ônibus no dia do aniversario dele, ainda mais meio bêbado.
Foi uma noite legal, voltei para casa, executei meu algoritmo noturno e fui dormir, mais uma vez pensando na Jaqueline. Mas assim como vieram, os pensamentos se foram, e eu dormi.

3 comentários:

LARISSA LIRA TOLLSTADIUS disse...

Essa Jaqueline...

sue disse...

fato que eu to rindo horrores pensando na situação de achar que derrubei a bebida em alguem...mesmo que derrubasse e ficasse sentida eu iria chorar de tanto rir. :P

Anônimo disse...

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