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sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Chapter X - Easter

Acordei às 11h com meu celular tocando, minha mãe, ela queria saber onde eu iria passar a semana santa. Páscoa! Eu andava tão avoado esses últimos dias que nem reparei que faltavam apenas 2 semanas para a Páscoa.
    Os diálogos com minha mão não mudam muito, ela sempre pergunta como eu estou, se tenho me alimentado direito, se não estou trabalhando muito e por fim se esse ano eu vou levar alguém de acompanhante no final de semana. Do meu lado também não muda muito, eu falo que estou bem, mas só tenho comido fast-food e nunca trabalho mais de 20h por dia, e esse ano estava pensando em levar duas acompanhantes, afinal de contas sempre tive uma tara por gêmeas. Ela me recrimina e dá risadas, assim nós nos entendemos.
    Quando desliguei reparei que a luzinha verde do celular piscava, fui olhar o que era e vi duas mensagens e três ligações perdidas. A primeira mensagem era da operadora de celular me oferecendo uma pacote novo, a outra era da Rafaela pedindo para que ligasse de volta, todas ligações era da Rafaela também, para minha decepção, cheguei a ter esperanças que alguma seria da Júlia.
    As ligações da Rafaela era duas seguidas do dia anterior e uma de hoje, o que não assusta tanto, mas já me envolvi com garotas que ligavam cinco vezes seguidas, isso é assustador, se eu não escutei na segunda eu não vou escutar mais, e quando eu ver a ligação perdida eu ligo de volta.
    A verdade é que eu não tinha vontade de nada, a não ser de comer, estava com uma fome animalesca, ligar para alguém e ser simpático não era minha prioridade, mas precisava resolver isso antes que o telefone voltasse a tocar. Fui ver o que a Júlia tinha preparado e aparentemente ainda estava comestível, só precisei esquentar um pouco, se estava bom daquele jeito, no dia anterior devia realmente estar uma delícia.
    - Rafaela?
    - Oi Bruno, estava preocupada com você, está tudo bem?
    - Tudo ótimo, e você?
    - Melhor agora, se sentindo bem? Pronto para arrasar já?
    - Sempre pronto! Você que deu azar, presenciou um raro momento de fraqueza...
    - Então como vai ser? Eu passo ai ou você passa aqui?
    - Nenhum dos dois, acho melhor terminar as coisas por aqui, não deveríamos mais nos ver.
    - Perae, o que?
    - Isso mesmo Rafaela, se lembra da primeira vez que te abordei no bar e você me disse que estava na dúvida se eu realmente era ingênuo ou se era um cara muito esperto tentando te enrolar? Parece que seus instintos estavam certos, talvez eu seja mais um cara babaca.
    - Não estou entendendo nada Bruno! Como assim? Você não é babaca, eu sei disso! Se fosse você teria transado comigo e depois me dispensado.
    - Talvez eu tenha desistido por algum outro motivo, talvez pelo fato de você ainda morar com seus pais, ou ter achado que estava indo rápido de mais, não sei ao certo.
    - Você é um filho da puta, sabia? Ainda não entendi nada, mas se o que você queria era nunca mais ver, parabéns! Não estou engolindo esse seu papo furado, alguma coisa aconteceu entre ontem e hoje, mas já estou com raiva o suficiente de você para não me importar! Eu tenho pena de caras como você, vocês são um lixo!
    E essa foi a ultima vez que falei com a Rafaela, eu poderia ter me encontrado e falado pessoalmente, mas não ia mudar muito. Por experiência eu sei como essas coisas funcionam, quanto mais simpático eu tento ser, mais com fama de filho da puta eu fico, e no final a moça fica pensando o que ela tem de errado para não ter dado certo, então eu visto a máscara de vilão, assumo a culpa, não faz me sentir melhor, mas certamente vai fazer ela se sentir, em duas semanas ela nem vai mais lembrar o meu nome.
    Eu não me sinto nada bem quando isso acontece, eu tenho uma amiga pedagoga que diz que por um motivo bizarro qualquer eu tenho essa necessidade de sofrer, que eu constantemente me coloco em situações em que assumo a fama de vilão mesmo quando não sou, e que em diversas situações que estou próximo de ser feliz eu faço algo inesperado e estrago tudo, como se eu fosse um miserável por opção. Mas se tudo isso fosse verdade, e eu sentisse prazer nisso tudo, eu seria um sociopata, ou se eu simplesmente fizesse isso porque gosto de ser um miserável de felicidade, eu estaria depressivo, e certamente não era um cara depressivo, pois ela sempre falava que eu era uma das pessoas mais fortes que ela conhecia. Resumindo, eu era um ser bizarro, uma criatura digna de estudo, talvez devessem me prender num laboratório, como fazem com os ratos, apenas com uma rodinha no meio para eu me exercitar.
    Eu estava prevendo um momento down na minha vida, acho que a maioria das pessoas é assim, leva uma vida com picos e vales, é claro se você varia muito rapidamente na verdade você é uma pessoa com distúrbio bipolar, mas não acreditava que esse fosse o meu caso.
    De tempos em tempos, normalmente após um momento de felicidades, algo acontecia e eu vivia um momento quase depressivo, seria como se minha vida fosse um livro e após um excitante e viciante capítulo viesse um novo capítulo que não conseguisse prender a atenção do leitor. Nessas épocas eu me afasto da minha família, foi por isso que eu decidi sair de casa em primeiro plano, meus pais não merecem ver meu sofrimento, pai nenhum merecesse ver o sofrimento de um filho.
    Eu nunca fiz nada destrutivo ou inconsequente nessas fases da minha vida, mas certamente pensei, como se caso eu sentisse dor ou tivesse uma experiência de quase morte eu estaria recebendo o que realmente merecia e ficaria satisfeito, mas eu sou esperto o suficiente para saber que isso era besteira, afinal de contas isso não muda nada, quem passa por isso e diz que mudou de vida, certamente muda, apenas nas primeiras semanas, depois tudo volta ao normal. Quase morrer, ficar doente, nada disse muda uma pessoa, pois são coisas passageiras, acredito que morrer realmente muda, certamente muda para as pessoas que ficam, que não tem nada a ver com a história, e a pessoa que se vai, bom, para essa pessoa certamente muda também.
    Nada mais de interessante aconteceu no meu dia, saí de tarde para comprar ovos da páscoa, comprei para todos de acordo com o gosto de cada uma, um gigante para minha sobrinha e, é claro, para o marido da minha irmã eu comprei um vagabundo de uma marca que nunca tinha visto na vida, afinal de contas no ano passado ele havia reclamado que eu gastava muito dinheiro com ovos da páscoa, que isso não tinha valor nenhum, já esperava o momento da entrega, só para ver a cara que ele iria fazer.
    A semana passou monótona, uma das vantagens de quando estou nessa fases estranhas da minha vida é que não vejo o tempo passar, para muitos isso pode ser algo bom, para mim é péssimo, odeio quando não sou produtivo, quando não estou fazendo algo dinâmico e vendo que estou desenvolvendo um crescimento, seja pessoal ou profissional. Mas talvez o mais monótono foi a ausência da minha aluna, ela não apareceu nenhum dia, e nos encontros matinais na academia se reduziam a um simples bom dia, quando eu chegava ela saia, na quarta-feira eu resolvi perguntar:
    - Impressão minha ou quando eu chego você sai?
    - Claro que não, estou acordando mais cedo, pode checar o crônometro da minha esteira se quiser.
    - Não, não, eu confio em você.
    E ela não quis repetir, mas tenho certeza que logo em seguida ela resmungou “Como se o meu mundo girasse em volta de você”, mas não quis insistir, não valia comprar a briga.
Na sexta-feira o Glauber não apareceu no trabalho, achei estranho, liguei na escola e descobri que ele também faltou, mas poderia apenas ser uma doença, eu não tinha como ligar pois eles não tinham telefone, e também não queria aparecer por lá, não era o lugar mais aconchegante do mundo e eu estava muito desorientado para ir num lugar daqueles sem prestar a devida atenção e tomar o cuidado que deveria.
Após ter chegado em casa e desenvolvido todas minhas rotinas, recebi uma ligação da dona Maria, ela queria que eu descesse para ajudar com o gás, ela disse que não estava conseguindo acender o fogão e precisava da ajuda de um homem, eu falei para ela chamar o zelador, mas ela insistiu que não iria chamar o coitado depois das 22h, afinal de contas ele já tinha trabalhado o dia inteiro, como se eu também não tivesse trabalhado o dia inteiro, mas ela tinha crédito comigo, resolvi descer.
Quando cheguei no primeiro andar ela estava na porta, conversando com a Júlia, a sensação foi de um soco no estômago, me tirou o ar, na verdade eu nunca tinha levado um soco no estômago, mas definitivamente eles deveriam tirar o ar.
A Júlia estava com uma saia curta e uma blusa que mostrava um dos ombros (sabe-se lá qual o nome daquela roupa), um pouco de maquiagem e cabelo solto.
- Alguém vai arrasar corações esta noite, não acha Bruno? - Me perguntou a dona Maria quando eu saí do elevador.
- Certamente arrasaria o meu...
- Não, acho que não, - disse a Júlia - já tenho destino certo, resolvi aceitar o convite do Davi, um cara do trabalho, ele sempre me chama para sair, eu nunca aceito, foi uma semana difícil, resolvi aceitar. Acho que é hora de parar de correr atrás dos outros, quero ser escolhida, é boa a sensação, ele é um cara bacana e parece gostar de mim.
- E por quê ele parece gostar de você?
- As meninas dizem que ele sempre pergunta, e sempre me chama para sair, ninguém insistiria tanto se não gostasse, não acha?
- Não necessariamente, ele poderia ser um cara cafageste e tem o hábito de ficar chamando garotas para sair, como ele sempre faz, é algo fácil para ele, enquanto um cara correto poderia morrer de vontade de ter sua companhia esta noite mas não tem coragem de te chamar, claro que isso é só uma hipótese, espero que você esteja certo sobre o Daniel.
- Davi, o nome dele é Davi.
Naquele momento um pequeno sorriso apareceu no canto do rosto da dona Maria, ela sabia que eu fazia isso, trocava o nome das pessoas apenas para irritar.
- Me desculpe, tive uma semana difícil também, ando meio avoado, para você ter uma idéia, tinha até esquecedio que na próxima sexta-feira é feriado.
- Eu sei, você deve estar avoado mesmo, e por isso que vou desconsiderar sua teoria sobre o Davi. Sabia que as clientes dão bola para ele e ele dispensa? Dai quando estou por perto ele olha de canto de olho para mim e diz que está interessado em outra pessoa, ele não é um amor?
- Só conhecendo para saber, mas como estou avoado, meus julgamentos não vão ter serventia para você.
- Bom, melhor eu ir para portaria, ele já deve estar chegando, tchau para vocês.
O olhar da dona Maria dizia mais do que frases inteiras, ela me recriminava sobre minhas atitudes e achava que eu deveria fazer algo a respeito da Júlia antes que fosse tarde.
- E o gás?
- Você demorou muito e eu resolvi o problema, pode subir para seu apartamento!
- É dona Maria, a senhora definitivamente é um barato.
Ela riu e entrou, e eu subi para meu apartamento.
Se minha semana foi ruim, meu final de semana foi ainda pior, no sábado a vizinha dos cabelos vermelho estava com um tablet com o número do celular escrito, ela ficou acenando, e quando eu resolvi ir na sacada ela mostrou dígito por dígito na tela, e não anotei, mas minha maldita memória gravou os números da mesma forma.
Eu estava entediado, e no domingo resolvi ligar para ela, claro que antes bloqueei o número do meu celular, não queria que ela ficasse me ligando depois:
- Oi vizinha, tudo bem?
- Tudo ótimo, e você? - Uma voz um pouco rouca, muito bonita, para quem estava esperando uma voz de criança, fiquei bastante surpreso.
- Tudo ótimo. Eu tenho algumas dúvidas, mas a primeira é mais importante, qual a sua idade?
- Dezenove, por quê? Pareço menos?
- Honestamente eu não acredito, mas não é bom começar amizades chamando a outra pessoa de mentirosa... Eu me chamo Bruno, e você?
- Eu sou a vizinha oras, como você chamou! Brincadeira, eu me chamo Dayanni Abravanon, olha meu perfil na internet depois, tem uma foto da minha carteira de motorista, já tira as suas dúvida sobre minha idade e você me vê mais de perto.
- Dayanni? Bom, vou continuar te chamando de vizinha... mas depois dou uma olhada para checar se você tem dezenove mesmo... Mas me diga, o que de tão especial você queria falar comigo que ficou acenando da janela?
- Nada oras, apenas conversar, sou nova aqui e quero fazer amizades...
- E as danças? É para divulgar o seu talento?
- Não acreditoooo, você viu? Não era para ninguém ver, que vergonha!
- Deixa ver se eu entendi, você fica dançando na sacada do seu apartamento, e achou que ninguém estava vendo?
- Eu olhei antes, não tinha ninguém na sacada, não imaginei que alguém estivesse olhando.
E derrepente a ligação cai, tentei ligar de novo e recebi a mensagem de telefone desligado ou fora de serviço. Não se passaram nem 2 min e meu celular toca, era a vizinha me ligando novamente.
- Me desculpe, acabou a bateria, agora estou na tomada.
- Só uma dúvida, como descobriu o meu número?
- Ah, você deve ter me ligado enquanto meu celular estava desligado, recebi uma mensagem da operadora de ligações perdidas.
Maldita operadora de celular, se eu escondi meu número esse serviço não deveria funcionar!
- Bom, interessante, agora já sabe como me achar... Mas eu preciso ir, tenho que arrumar algo para comer, vida de solteiro não e simples.
- Humm, solteiro? Isso é bom, eu adoro ser solteira, posso sair com quem eu quiser e quando quiser... mas tudo bem, em outra oportunidade nos falamos.
- Tchau, foi um prazer.
- Beijo.
    Eu tinha certeza de que tinha acabado de arrumar mais uma confusão na minha vida, mas eu não estava pensando direito, só me restava agora esperar e ver no que isso vai dar, só falta essa menina começar a me mandar mensagens. Mal pensei e o telefone vibrou, nova mensagem.
    “Boa noite vizinho, aprende a cozinhar e me convida para comer... rs Bjo S2”
    Definitivamente eu merecia isso, e ainda era pouco. Felizmente na próxima semana eu estava indo visitar minha família, ver minha sobrinha sempre era um injeção de ânimo, é impressionante como um ser um tão pequeno e que faz parte da minha vida a tão pouco tempo pode gerar uma relação de afeto tão grande.
    Durante a semana surgiram novas mensagens da Dayanni, eu não respondia todas e sempre adicionava algo como “estou no trabalho”, “não posso falar”, “em reunião”, para ver se ela se tocava e parava de enviar novas mensagens, mas parecia que isso só deixava ela mais interessada, pois sempre mandava mais mensagens puxando assunto.
    Na quarta-feira o Jorge pediu para conversar sozinho comigo na minha sala, quando entramos eu não tinha a menor idéia do assunto. Para minha surpresa ele queria falar sobre o Glauber, me disse que colocou a mão no ombro do garoto na hora de cumprimentar e ele curvou os joelhos de dor, com muita conversa, afinal de contas o garoto era esperto, ele disse que tinha apanhado do pai com um guarda-chuva, estava com diversas marcas pelo corpo, por isso tinha faltado na sexta-feira.
    Eu odeio sentir raiva, meu sangue ferve, talvez isso seja uma sensação comum, mas para quem raramente fica bravo, é uma sensação horrível, parece que eu vou explodir, ou começar a apitar igual uma  panela de pressão. Eu estava furioso, como pode um pai bater no filho e deixar ele cheio de marcas no corpo? E o pior de tudo, o que eu podia fazer a respeito?
    No dia seguinte eu resolvi comprar ovos da páscoa para todos funcionários, mas esperei o Glauber sair para entregar, só para ter a desculpa de levar na casa dele pessoalmente.
    Quando parei o carro na rua a mãe dele já estava na porta, conversando com vizinha, no momento em que coloquei os olhos nela eu notei um corte no canto da boca, possivelmente de um soco, possivelmente do mesmo vagabundo que tinha deixado marcas pelo corpo do filho.
    Cuidadosamente eu puxei assunto e expliquei o motivo da minha visita, que sob a desculpa de que estava entregando o ovo da páscoa eu estava mesmo interessado era no Glauber, sobre a surra que ele tinha levado. Ela quase chorou, estava com os olhos cheio de água, mas claramente eu podia ver de onde o garoto tinha tirado tanta dignidade, ela me olhou nos olhos o tempo todo, disse saber das escolhas da vida, que o marido nem sempre era um homem ruim, ele tinha bebido e batido no garoto, ela tentou separar e acabou levando um soco também.
    - Quem é esse? - Veio de uma voz grossa de trás de mim.
    Eu olhei para trás e vi um homem quase um palmo mais alto do que eu, jeans surrado e uma camisa com alguns furos, um saco na mão cheio de latinhas amassadas, barba mal feita e mesmo com um pequena distância eu podia sentir o cheio de alcool. Não precisava ser muito esperto para saber, era o pai do Glauber.
    Ainda nervosa, a mãe do garoto disse:
    - Ah meu bem, esse é o Sr. Bruno, o chefe do Glauber, que ajudou a colocar ele na escola e tirou ele da rua.
    - Eu preciso conversar com ele sozinho mulher, entre que agora é assunto que não te interessa.
    Ela me olhou com olhos apreensivos, eu concordei com a cabeça mostrando que estava tudo bem.
    - Quer dizer que o senhor é o pai do Glauber, meus parabéns, o senhor tem um ótimo garoto.
    - Ótimo né? O você é bem esperto, anda em carro de patrão, e não pode ver meu menino que já quis tirar vantagem!
    - Vantagem? Eu estou tentando ajudar, só isso, nem tinha a posição dele na minha empresa, eu criei apenas para oferecer a oportunidade para o menino.
    - Claro! Porque é esperto e sabia que o garoto ia te dar dinheiro! Você acha que eu não conheço o seu tipo? Ele deve fazer você ganhar dez vezes mais do que paga para ele!
    - É isso que você pensa? Bom, não vim aqui para discutir isso, e você parece estar certo disso, não vou entrar em detalhes com você.
    - Claro que não! Pois sabe que está errado, playboy sempre faz isso, finge de intectual e fala que não vai responder porque se acha superior!
    O cara queria briga, a verdade era essa, ele era grande e forte, então certamente essa era a tática dele, irritava e depois gerava briga, onde ele ganhava fácil.
    - Bom, não posso fazer nada sobre suas idéias, mas estou aqui por outro motivo, o Glauber não quis dizer nada, mas pude ver alguns hematomas nele, e não precisa ser muito esperto para perceber que foi briga, quando cheguei aqui vi o machucado na boca da sua esposa, estou surpreso de ver que você não está machucado, as pessoas na sua casa parecem estar sofrendo acidentes recentemente.
    Ele deu dois passo para frente, ficou a menos de meio metro de distância.
    - Você é muito corajoso sabia? Vir aqui e falar que eu bato na minha família!
    - Eu não disse isso, você bate?
    - Não, como você disse, eles estão sem sorte e sofreram acidentes, piso escorregadio, vivem caindo.
    - Que bom, espero que você dê um jeito nisso, alguém mal intencionado pode pensar que você anda batendo neles.
    - Obrigado pelo conselho. Mas agora eu quero conversar com você sobre um outro assunto.
    - Pois não, pode falar.
    - O garoto ganha porquê voltou para escola, você ganha porquê tem um funcionário, a minha dúvida é o que eu ganho nessa história toda?
    - Não entendi, porquê você teria que ganhar algo?
    - Oras, ele trabalhava para mim na rua, trazia dinheiro para casa, e agora ele não trás nada!
    - Bom, ele recebe um salário, que tenho quase certeza que é maior do que ele recebia na rua, sem contar que é fixo, não é variável como era na rua, ainda tem carteira assinada e não corre o risco de sofrer acidentes, que como você disse, ele anda sem sorte.
    - Mas até agora eu não vi um centavo dessa história toda!
    - Claro que não, quando se trabalha só se recebe o dinheiro no final do mês.
    - Não me venha com histórias, eu quero receber uma recompensa por você ter me roubado o garoto.
    - Não entendi novamente, você quer receber um salário também? Em que mundo você vive cara? Não faz o menor sentido o que você está falando, eu vou embora, mande um abraço para sua esposa.
    Nesse momento ele segurou no meu braço e evitou que eu me virasse para ir até meu carro.
    - Olha aqui playboy, eu quero receber uma grana pelo garoto, considere como sendo o passe dele, igual a jogador de futebol, você me dá uma grana e depois pode fazer o que quiser com o garoto, pode até levar ele para morar com você.
    Inacreditável, meu nível de revolta crescia a cada instante, se ele não fosse tão maior que eu talvez eu desce um soco nele, ou vários, não sei, nunca briguei na minha vida, mas tudo se tem uma primeira vez.
    - E quanto seria esse valor, não que eu vá pagar, claro, apenas para saber o quanto vale seu filho.
    - O garoto é bom, como você sabe, me dê 5 mil e ele é seu.
    Eu respirei fundo, fechei meus olhos e sorri, R$ 5 mil era o preço do filho dele. Será que esse cara tinha noção? Será que ele tinha uma vida tão miserável que ele achava que isso era dinheiro? É claro que é um valor alto para quem não tem nada na vida, mas é uma quantia insignificante para quem está negociando o próprio filho, digno de revolta, eu quase fui no banco e saquei a grana.
    - Cara, você certamente me surpreendeu, R$ 5 mil é o preço do seu menino? Bom, eu não vou nem pensar na sua proposta, nunca mais quero conversar sobre esse assunto com você, não perca seu tempo me procurando novamente. - Soltei meu braço da mão dele e entrei no carro.
    - Pode ficar tranquilo que eu vou fazer você mudar de idéia, vou mandar mensagens pelo Glauber, ainda bem que você sabe que o chão do meu barraco é escorregadio, acidentes acontecem.
    Eu só queria chegar em casa, tomei um banho, preparei uma mala rápida e dirigi para o inteiror, no dia seguinte eu tinha um revigorante almoço em família.